sábado, 24 de março de 2007

De volta a Uyuni

8° dia

Acordei meio perdida, sem lembrar bem onde estava. Vi minhas companheiras de viagem dormindo igual crianças nas camas ao lado e me lembrei da noite incrível que eu tinha tido. Começava o quarto dia de viagem pelo deserto de sal boliviano e eu já estava mais do que ansiosa pra voltar a La Paz e seguir viagem. Ainda tínhamos muito chão pela frente e muita coisa pra ver.

A Iraman, ansiosa como eu, também acordou cedo e como avistamos o Matteo tentando consertar nosso carro no quintal, sentimos que o café-da-manhã aquele dia demoraria a sair e resolvemos dar uma volta e conhecer a pitoresca Culpina K, onde vivem as famílias de trabalhadores de uma mina perto dali .

Além do nome, a cidade chama a atenção por vários motivos. A começar pelo portão da cidade que diz "Culpina K - Cidade Modelo" e traz outras placas indicando a existência de hotéis, telefone, hospital, intenet e até mesmo aeroporto. Não entendi muito bem a piada, mas desconfio de que uma cidade que consiste em poucas ruelas e casebres paupérrimos no meio do nada tenha todas essas vantagens tecnológicas. Acho que de todos os ítens, o aeroporto é o mais provável de existir, considerando toda vastidão que cercava a cidade. As ruas estavam desertas (perdão pelo trocadilho) e totalmente silenciosas, até as crianças saírem da escola e descerem correndo e sorrindo para as duas gringas que assistiam à cena curiosas. Deixando os estudantes pra trás, continuaríamos o passeio não tivéssemos chegado ao outro portão da cidade. O de saída. Ou de entrada dependendo da perspectiva. E uma vez nele, conseguíamos enxergar o outro na extremidade oposta da gradiosa Culpina K.

Voltamos pra casa ainda muito empolgadas com o passeio. Bella e Isa morriam de tédio à espera do Matteo, que sequer dava notícias sobre o estado do nosso carro. Horas depois, finalmente seguimos viagem, trocando uma ou outra palavra com nosso motorista, que ainda estava meio aborrecido com a gente desde o dia anterior. Paramos em San Cristóbal para visitar a Iglesia de San Cristobal, contruída dois anos antes, mas projetada para parecer datada do período colonial. Ainda encontrávamos alguns turistas pelo caminho, mas em número consideravelmente menor do que durantes os outros dias pelo deserto.

A hora do almoço acredito que foi a grande vingança do Matteo, que a aquela altura não fazia a menor questão de interagir com a gente. Numa panela, batata e cenoura cozidas. Na outra, ovo cozido e tomate. Para acompanhar o banquete, pão ("à la Bolivia"), maionese e ketchup Kris. A nossa volta, crianças riam assitisno às gringas comendo pão com batata e ketchup. Bom, não era uma refeição saborosa e muito menos balanceada nutritivamente, mas tenho que admitir que matou minha fome como nenhuma outra desde que botei os pés na Bolívia. Valeu, Matteo!

Chegamos a Uyuni às três da tarde e como nosso ônibus para La Paz só saía às oito, aproveitamos pra dar uma volta na cidade. Uyuni tem uma boa infra-estrutura de hotéis, cyber cafés e restaurantes, então fazer hora por lá não foi problema. Paramos pra jantar em um restaurante na praça principal (não me lembro o nome) que estava cheio de outros turistas a espera do ônibus. Antes que chegasse nossa macarronada (não íamos arriscarm, né?), eu e Iraman resolvemos experimentar o famoso Pisco Sour, e já adianto que tomamos gosto pela coisa.

Nosso ônibus saiu sem atraso e comemoramos por vê-lo partir com apenas meia dúzia de pessoas em pé no corredor. Por via das dúvidas, tomei um dramim na esperança de dormir a viagem inteira e apagar a má impressão. O problema é que com o ônibus mais vazio, o frio apertou. A minha janela estava "lacrada" com fita durex e o vento que entrava não deixou o Dramin fazer efeito de jeito nenhum. Eu e Bella nos enrolamos no meu saco de dormir que não conseguia dar vazão de esquentar as duas. Iraman e Isa também se viraram como deu, mas o frio dentro do ônibus conseguiu fazer a nossa viagem de volta ser ainda pior do que a de ida. Quando chegamos a Oruro por volta das duas, fomos informadas de que nosso ônibus para La Paz sairía apenas às quatro, mas como a sorte estava 100% do nosso lado, pudemos esperar dentro do ônibus. Foram duas horas lutando contra o frio e contra o Dramin, que àquela altura já me deixava totalmente sonolenta, mas não o sufuciente pra ignorar que meu queixo tremia e que os ossos do meu pé pediam socorro.

Saímos correndo de um ônibus ao outro que nos esperava do lado oposto da rodoviária, que naquele frio, parecia ser do tamanho do Maracanã. Pra nossa completa e quase infantil felicidade, nosso novo transporte tinha calefação. Infelizmente a viagem durou apenas quatro horas, mas foram uma das melhores quatro horas da minha vida. Amém.


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PISCO SOUR


RECEITA:

2 medidas de Pisco
1 medida de suco de limão passado na paneira
1 clara de ovo
gelo triturado
1 medida de açúcar
Diluir o açúcar no pisco. Colocar no liquidificador todos os ingredientes e bater em velocidade alta por 3 a 4 minutos. Servir em taças de vinho tinto com uma pitada de canela em pó.

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