quarta-feira, 1 de setembro de 2010

San Pedro de Atacama

Sabe aquele filme em que o James Belushi fica preso num mesmo dia - o dia da Marmota - e tudo acontece exatamente igual over and over again? Pois nosso dia começou um pouco assim, as três fazendo rigorosamente o que haviam feito na véspera. Arrumamos as malas, pedimos um taxi, fomos até o aeroporto, fila do check in, alô pra moça do guichê e... embarcamos. Ufa! Agora sim, rumo a San Pedro de Atacama.


Nosso vôo até Calama saía no começo da tarde, então pegamos o almoço no ar. Eu fui abençoada com uma cólica digna de pré-adolescente e só fiz ficar largada na poltrona sonhando com meu Buscopan no compartimento de cargas, enquanto as meninas degustavam o menu a bordo. Fora os problemas femininos que me acometeram, as duas horas e meia de vôo foram bem tranqüilas... até a hora de pousar. Porque a chegada em Calama, minha gente, é com emoção: você não vê a pista do aeroporto até o momento do trem de pouso encostar o chão e até o último minuto jura que o avião vai pousar ali mesmo, no chão de terra do deserto! Porém, o desembarque do avião numa pista de aeroporto em meio a completa vastidão do deserto compensou qualquer frio na barriga. A paisagem impressionava e sequer tínhamos chegado a San Pedro.

Ali mesmo no aeroporto corremos para garantir nosso lugar numa das vans que fazem o percurso Calama - San Pedro e por pouco mais de uma hora cruzamos aquela terra inóspita na companhia de um belíssimo por-do-sol que, em pleno deserto, havia se transformado num espetáculo de cores. Já dava pra sentir os efeitos da baixíssima umidade do ar e da altitude - San Pedro fica a mais de 2400m e pelo caminho chegamos a mais de 3000m. A van nos deixou na porta do Hotel Don Raul, que fica na rua principal, a Carácoles. Por lá, o banheiro privativo e as camas individuais nos faziam concluir que o café da manhã merecia uma atenção especial no dia seguinte.

Aproveitamos o começo da noite para procurar um albergue mais em conta que o Don Raul e para reservar os tours que feríamos nos próximos dias. A idéia era fechar o maior número de passeios numa mesma agência para conseguir um bom desconto, exatamente como havíamos feito em Mendoza. E deu certo. Na agência Pachamama pagamos 55000 o pacote com todos os tours que tínhamos escolhido fazer: Lagunas Altiplanicas e Salar, Laguna Cejar e Ojos del Salar, Geisers del Tatio, Vale de la Muerte e Vale de la Luna. E ainda corremos pra comprar, em outra agência, o tour astronômico - pra mim a grande promessa pro dia seguinte! Pra concluir nossas obrigações e poder finalmente sentar pra jantar, faltava apenas descobrir onde dormiríamos na noite seguinte. E pelo jeito estávamos com sorte: exatamente em frente ao nosso hotel ficava o hostal Puritama, um excelente albergue com quartos confortáveis, muitos banheiros (compartilhados, porém individuais) e hóspedes muito simpáticos (leia-se: gatos pra caramba)!

Assim que garantimos nossa reserva no Puritama, fomos dar uma volta na cidade que se resume basicamente a rua Carácoles e suas estreitas transversais. O movimento nos restaurantes já era grande e deu pra perceber que a vida noturna por lá não ultrapassa as duas horas da manhã com muita boa vontade. Sentamos para comer uma pizza e pelo cardápio vimos que o padrão ali era outro e não ia rolar de fazer grandes refeições sem estourar o orçamento da viagem. Por sorte, nos dias que se seguiram, descobrimos as deliciosas - e gigantescas - empanadas, que eram vendidas a cada esquina por uma merreca. Também pesquisamos o melhor lugar para comprar água, fazer ligações, acessar internet, comprar artesanato e por aí vai... os preços em San Pedro merecem uma olhada mais atenciosa se você pretende gastar pouco!

Dormimos cedo no nosso confortável quartinho do Don Raul já em clima de despedida do conforto. A partir do dia seguinte voltaríamos a dividir banheiro, dormir em beliche e teríamos que nos contentar com um parco café da manhã. Assim, o plano era acordar ainda mais cedo que o previsto para aproveitar bem o café do nosso hotel e tirar a barriga da miséria. Boa noite.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Atacama - 1a. tentativa

Finalmente chegou o grande dia de partir pro Deserto do Atacama. Santiago já tinha dado o que tinha que dar e era hora de seguir viagem. Ainda tínhamos a manhã livre, pois nosso vôo saía apenas no começo da tarde, então aproveitamos para tentar conhecer La Moneda, sede da Presidência da República que foi bombardeada durante o golpe de Estado e onde morreu o então presidente Salvador Allende. Tínhamos a informação no nosso guia de viagens de que o palácio ficava aberto ao público durante um período da manhã, mas demos com a cara na porta. Nada de visitas, e tivemos que nos contentar com a troca da guarda e meia dúzia de fotos.


De metrô, corremos de volta ao albergue, check out feito, mochilas prontas e toca pro aeroporto. Tudo correndo maravilhosamente bem, até a fila do check in estava minúscula. Nada podia dar errado. "Señora, su vuelo no es hoy" me disse a moça do guichê, com cara de pena. "Como?" eu entendi errado, com certeza! "Su vuelo es mañana, señora". Olhei pra trás e vi nos olhos das minhas companheiras de viagem - boquiabertas - que eu tinha entendido direitinho. Rimos. Rimos muito! O que mais a gente podia fazer numa hora dessas? Tinha havido alguma confusão com o calendário na hora de comprar os bilhetes, pois acreditávamos que tínhamos pedido para um dia e a mulher vendeu pro dia seguinte! Na confusão da chegada, ninguém conferiu as passagens e lá estávamos nós, três idiotas empacando a fila do check in tentando imaginar o que fazer. De nada adiantou chamar todos os funcionários da companhia aérea pra tentar colocar a gente no vôo do dia. O jeito era voltar pro albergue. Ai, meu Deus, que vergonha, voltar pro albergue e dizer que queríamos ficar mais uma noite porque erramos o dia de embarque. Enfim... encaramos o papel de malucas com bom humor e viramos o assunto do dia por lá. E eu nem precisei contar que já tinha passado por isso em outra viagem. Mas isso já é outra história.


Àquela altura o dia já parecia perdido, mas o tempo resolveu ajudar e, finalmente, conseguimos fazer o que até então estava sendo impossível: simplesmente vagar pela cidade, sem rumo certo nem hora pra voltar. Andamos até Providencia, bairro com grande concentração de bares e restaurantes, como o Liguria. Depois da nossa andança (e da nossa novela no aeroporto), o estômago já pedia uma pit-stop, e foi lá mesmo que a gente parou. Meio bar, meio restaurante, o Liguria chama a atenção pela decoração, pelo ar tradicionalíssimo e pela simpatia dos garçons. Sem dúvida, vale a visita, nem que seja pra tomar uma cervejinha no fim do dia. Nossa caminhada de volta ao hostel foi abençoada por um belíssimo pôr-do-sol, agora sim digno de uma despedida da cidade.

PAUSA PARA FOTO

La Sebastiana

















Sabia viver, esse tal de Neruda...

Valparaíso

No dia seguinte, nossa missão era conhecer Valparaíso e almoçar com um amigo chileno de um amigo da Iraman, no maior estilo blind date mesmo. Pegamos um ônibus na rodoviária de Santiago e, pouco mais de duas horas depois, lá estávamos nós à beira do Pacífico. Antes de mais nada, deveríamos telefonar para o tal amigo e marcar nosso encontro para o almoço, tarefa bem mais difícil do que parece, pois fazer uma ligação local nos orelhões da rodoviária foi uma verdadeira epopéia. Marcamos, enfim, de nos encontrar na entrada do Mercado Central na intenção de degustar a culinária local no lugar mais apropriado pra isso. O problema é que o tal mercado tinha, no mínimo, umas quatro entradas diferentes e, se já era difícil encontrar alguém que a gente sequer conhecia, no meio da multidão era piada. Bom, sabiámos que o cara era barbudo e cabeludo, mas assim também eram os mendigos à volta do mercado... Deu uma certa vontade de fingir um desencontro e sair rapidinho de lá, mas valeu a pena esperar para conhecer nosso host do dia, que nos levou pra dentro do mercado onde tivemos um agradável almoço chileno.


Depois da despedida, seguimos nós três nosso passeio até La Sebastiana, uma das antigas casas de Pablo Neruda e atual museu. Assim como La Chascona, em Santiago, a casa abriga uma vasta coleção de objetos de arte e pessoais de Neruda, assim como livros e escritos do poeta. Fizemos uma visita incrível usando o audioguia, que funcionou melhor que muito guia por aí. O dia estava lindo e a vista de dentro da casa é mesmo deslumbrante! Sabia viver, esse tal de Neruda...


Descemos, passeando a pé por todo o caminho até chegar de volta na rodoviária, já no fim do dia. Mais duas e horas e pouco de estrada e lá estávamos nós no hostel de Santiago fazendo as malas para partir pro Atacama no dia seguinte. Estava na hora de seguir viagem.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PAUSA PARA FOTO


Vista panorâmica do Cerro San Cristóbal











Cerro San Cristóbal










Aqui tem Mote con Huesillo. Tem o quê?











Mote con Huesillo, ué!

De volta a Santiago

Optamos por fazer a travessia Mendoza-Santiago durante a noite já que na ida tivemos a oportunidade de curtir as belezas da Cordilheira dos Andes numa viagem diurna. Dessa vez, o plano era economizar tempo e dinheiro dormindo nas confortáveis poltronas do ônibus da chilena TurBus. A viagem correu bem até nossa tranquila noite de sono ser interrompida por uma longuíssma e gélida espera na fronteira com o Chile. Vamos combinar que não é a melhor rcepção do mundo ficar numa fila interminável, no frio e com os olhos pesando de sono. Ou tínhamos dado muita sorte na aduana ao entrar na Argentina, ou os hermanos do lado de lá são mesmo mais solidários.



Chegando em Santiago, nos acomodamos no mesmo albergue de antes, o Bellavista, e para evitar nos entregar ao cansaço e morrer ali mesmo na cama, saímos o quanto antes atrás de alguma coisa para fazer. Decidimos aproveitar que começava o fim de semana para subir até o Cerro San Cristóbal, o segundo ponto mais alto da cidade e lugar bastante frequentado pelos chilenos. De fato estava bem movimentado e família inteiras, não apenas turistas, aumentavam a fila para o funicular. Mas muita gente prefere subir por outros meios e deu pra perceber que o lugar é um ponto de encontro de ciclistas e corredores, o que me fez lembrar de casa com uma saudade passageira. O Cerro proporciona uma linda vista panorâmica da cidade e da cordilheira, além de dar um gostinho do dia a dia dos moradores de Santiago, como, por exemplo, o hábito de tomar mote con huesillos, uma bebida típica chilena. Tentamos, em vão, descobrir exatamente do que se tratava, então decidimos experimentar por conta própria aquela bebida esquisita e depois deixar o wikipedia terminar o serviço: "es una bebida refrescante chilena, no alcohólica, que se compone de una mezcla de jugo acaramelado, con mote de trigo y duraznos (pêssego) deshidratados, llamados huesillos." Um pouco doce pro meu gosto, mas bastante nutritiva para os atletas que chegam ao cerro depois de uma longa subida.

O tempo começou a fechar novamente e aproveitamos para resolver os últimos detalhes da nossa viagem pro Deserto do Atacama, a começar dali a poucos dias. Para minha surpresa, descolar o contato de algum albergue por lá é uma missão quase impossível. No site oficial de San Pedro constam poucas opções de estadia realmente em conta e havia poucas referências nos fóruns de mochileiros. Como chegaríamos no fim do dia, achamos melhor não arriscar uma peregrinação pela cidade escura e reservamos uma noite no Don Raul, hotel que parecia simples mas que ainda estava além do nosso orçamento. Com o conforto da primeira noite garantida, poderíamos sair em busca de um bom albergue com tranquilidade.
 
Quando a chuva deu uma trégua, fomos atrás de algum lugar para comer ali mesmo pelo Barrio Bellavista. Era dia de algum jogo de futebol importante para os chilenos e todos os bares estavam cheios, então sentamos no primeiro bar onde pintou uma mesa vazia. "Una cerveza por favor" pedimos rapidamente, querendo entrar também no clima de confraternização antes que aquela barulheira começasse a irritar, "y papas!" já que passava da hora do almoço e o estômago reclamava. Algum tempo sentadas ali e começamos a perceber que todas as mesas ao nosso redor tinham algo em comum: homens. E not in a good way. Guardamos a informação de que estávamos num bar gay de nossos novos amigos - um brasileiro e um inglês - que vieram se sentar com a gente. Se eles repararam alguma coisa foram muito discretos, pois ficamos ainda um bom tempo por lá até os quatro decidirem curtir o resto da noite em algum outro lugar mais animadinho.


Já eu preferi dar uma volta sozinha, acompanhada de meus próprios pensamentos e sentar em um bom café para escrever. Depois de um certo tempo na estrada e sempre acompanhada, começava a sentir falta desses momentos introspectivos e confesso nunca ter vergonha de reinvindicá-los. O resultado? Um caderno cheio anotações e lembranças impagáveis, muitas delas tenho certeza de que minha memória infelizmente apagaria assim que eu desembarcasse no Rio. Dica minha? Nunca saia de casa sem o seu Moleskine, seja ele o original charmosíssimo ou aquele bloquinho da Turma da Monica que você ganhou da sua tia no seu décimo aniversário. O que importa é nunca deixar de registrar suas impressões sobre essa experiência tão rica que é viajar.

PAUSA PARA FOTO

Fingindo intimidade com o cavalo...











Cavalgada

Nosso último dia em Mendoza começou cedo, quando partimos para o tour mais pitoresco de todos até agora: uma cavalgada pelos áridos arredores da cidade. Digo isso, pois nenhuma de nós tinha lá muita experiência com o esporte e, de fato, nossa intimidade com cavalos se mostrou ridícula. (Para não dizer que eu não tinha experiência em cavalgadas, tive sim duas péssimas experiências: na primeira o cavalo empacou no meio da trilha e eu fui abandonada a própria sorte pelo grupo que me acompanhava; na segunda, o animal pisou no meu pé no momento em que eu ia subir e lá ficou, acidente que me custou a unha do dedão).


Fomos acompanhadas por duas americanas - tão tapadas quanto a gente, ufa! - e pelo Diego, o cavaleiro galanteador que iria nos guiar e, entre uma cantada barata e outra, nos ajudar no que fosse preciso na difícil relação grigas/cavalo. Saímos do estábulo debaixo de um sol forte e seguimos pra bem longe de qualquer sombra, árvore ou brisa, adentrando uma paisagem cada vez mais árida. O clima seco de Mendoza incomodava bastante, principalmente num dia ensolarado como aquele. Os cavalos ficaram comportados até demais - a égua da Marcinha cismava em andar tão devagar que todos os cachorros da região a seguiam felizes, latindo. Diego não se conteve e finalizou aquela cena de cinema cantando "La Cucaracha" com todo seu charme latino/canastrão. Memorável, tenho que dizer!


Tudo correu bem, mesmo quando descemos por alguns minutos para deixar os cavalos descansarem e eu quase dei uma cambalhota tentando subir novamente. O passeio não teve nada de radical como a gente esperava - e temia - mas nossa manhã cavalgando sob o sol forte deu um certo cansaço e merecíamos um tempinho pra relaxar. De volta a Mendoza, paramos na Plaza Independencia, há poucas quadras do nosso albergue, e improvisamos um delicioso piquenique com um bom vinho argentino, biscoitos e azeitonas recheadas compradas nos vinhedos dias atrás. O papo correu solto... e estar entre amigos em um momento simples como esse o transforma numa recordação pra toda vida.


Voltamos pro albergue a tempo de arrumar nossas mochilas e fazer o check-out, já que partiríamos de volta a Santiago naquela mesma noite. Ainda tínhamos tempo de sobra e aproveitamos pra jantar com Phil, nosso companheiro de muitas festas, no recomendado restaurante Quinta Norte. Como o ônibus saída tarde da noite, ainda paramos pra fazer hora no bar do albergue e tivemos a chance de nos despedir de todos os novos amigos já com o coração apertado de saudade. Será que voltaríamos a nos ver? Ou será que cada um deles, que foram tão especiais durante aqueles dias, se tornariam apenas boas lembranças de mais uma viagem?

**************

Restaurante Quinta Norte: Calle Mitre, 1206 - a comida não é de cair o queixo, mas os preços são ótimos!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PAUSA PARA FOTO

Jantar de despedida no Campo Base Hostel.













Turistada reunida na Pizza Party no Mendoza Inn













Na verdade a Pizza Party tava mais pra Tequila Party.














Mais um pra nossa coleção.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Relaxando...

Faz parte de um bom albergue, além de oferecer boas instalações, também propiciar o encontro entre mochileiros de todo o mundo - o que vai desde uma boa área de convivência até festas e jantares organizados pelo staff. E o Campo Base não falha em nenhum desses aspectos. Além de garantir uma sala confortável e um bar bem convidativo, também não economiza na hora da confraternização com os hóspedes. Em poucos dias na cidade, já havíamos participado da animadíssima pizza party organizada por eles e o grupo que se formou após nossas cervejadas no bar era o suficiente para garantir a diversão sem sequer botar o pé fora do albergue. E foi exatamente isso que a gente fez na nossa última noite na cidade, depois de um dia meio morto.



As festas que Mendoza proporciona a seus visitantes (ou pelo menos a nós) são perfeitas para fazer amigos, conhecer histórias de vida, aprender sobre países ainda não visitados e encher a bagagem de ótimos "causos", mas sem dúvida podem acabar comprometendo o planejamento da viagem. Afinal, muitas tequilas numa festa não vão te deixar a pessoa mais bem disposta para percorrer a cidade de bicicleta no dia seguinte. Infelizmente, acordamos sem a menor disposição para cumprir mais essa meta da viagem e acabamos por cancelar nosso bike tour, o que foi uma pena, pois seria uma ótima forma de conhecer os arredores. Almoçamos tarde e tiramos o dia para bater perna por ali mesmo e adiantar nossas passagens de volta a Santiago. Mas o dia de ressaca permitiu que a gente passasse mais tempo à toa no albergue e, com isso, encontramos mais gente disposta a fazer uma bagunça por lá mesmo. Tiramos, nós três e mais um casal de gringos, o fim da tarde para organizar um jantar de despedida e encaramos a missão de não só fazer as compras, mas também de cozinhar pra todo mundo.


A trabalheira valeu a pena. No começo da noite, estava um grupo de mais de dez pessoas reunido numa enorme mesa se arriscando na nossa macarronada e degustando um bom vinho argentino. Após a comilança, o vinho continuou nos acompanhando, dessa vez num animado carteado entre aqueles que ainda permaneciam dispostos a curtir a noite.


O dia como o de hoje, provou mais uma vez a necessidade de deixar o roteiro aberto a esse tipo de mudança de planos. Às vezes, ficamos tão preocupados em seguir a risca o planejado, em não perder tempo, em fazer todos os passeios e ver todas as atrações, que deixamos passar momentos como esse de simplesmente curtir o dia, bater papo e fazer novos amigos.


Então, companheiro de estrada, não se sinta culpado se "perder" um dia de viagem para ficar à toa. Às vezes, quando largamos mão do planejado para deixar a viagem simplesmente acontecer é que as melhores surpresas vêm ao nosso encontro.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PAUSA PARA FOTO

Pelo caminho, paisagem cada vez mais árida.












Estrada pelas cordilheiras.

















As três viajantes.











Puente del Inca.

















O Aconcágua é logo ali!!!












As montanhas deslumbrantes da cordilheira.











Novos companheiros de viagem (odeio quando pegam minha câmera para bater uma foto terrível como essa!).









Em Uspallata a polícia é meio esquisita...

Alta Montaña

O dia intenso de ontem ainda terminou numa cervejada no (indicadíssimo) restaurante Caro Pepe com direito a uma esticadinha no bar do nosso hostel, pra tomar a(s) saideira(s) com a simpática turma do staff e outros hóspedes.


Acordar às 7 da matina depois da peregrinação de ontem foi dureza. Eu corri pro chuveiro, agora que descobri que esse é o horário perfeito pro banho, quando a água ainda tá quente e o banheiro, limpinho. Já rolava uma certa movimentação na cozinha quando descemos, era a galera se preparando para partir rumo a Alta Montaña, assim como nós. O plano era sair de Mendoza rumo às cordilheiras percorrendo as paisagens e cidades mais características e marcantes da região, passando pela entrada do Parque do Aconcágua (a neve começou a cair tarde esse ano e o parque ainda está fechado, infelizmente) até chegar à fronteira com o Chile. Assim como no dia anterior, buscamos outros turistas pelos albergues e seguimos viagem com a van cheia de gringos animados. A companhia estava bem diversificada: franceses, holandeses, americanos, sul-africanos, chilenos, argentinos e, claro, brasileiros. Alguns estiveram nas bodegas com a gente na véspera, e já tínhamos virado amigos desde criancinha.

Paramos ainda antes de chegar à cordilheira, na pequena vila de Potrerillos, onde o frio já estava intenso e a gente pode desfrutar de um bom chocolate quente e se preparar para o frio ainda maior que vinha pela frente. As meninas estavam de tênis e preferiram alugar botas especiais pra neve. Eu estava com minha bota de trekking impermeável e resolvi arriscar ficar com elas mesmo, porém como conheço muito bem meus pontos fracos aproveitei pra comprar uma luva bem mais potente do que as minhas luvinhas de lã. Talvez tenha exagerado, porque a luva era tão grossa que era impossível fazer qualquer coisa com as mãos quando estava com elas... Mas tudo bem, dedinhos congelados também não servem pra nada!

Seguimos viagem pela estrada ainda muito árida e com pouca vegetação passando por Uspallata, um pequeno centro urbano com lojas, alojamentos e restaurantes. Me pareceu uma boa opção para pernoite pra quem pretende percorrer com calma a região. A medida que subíamos em direção a cordilheira, a paisagem ia mudando. Aos poucos, a terra batida foi dando lugar a formas mais montanhosas até que a neve apareceu e, em pouco tempo, atingimos um platô de onde se tinha uma belíssima vista panorâmica das montanhas, seus picos nevados e seus vales. A câmera fotográfica ficou frenética a partir daí e não parou mais. O visual era mesmo impressionante.

Passamos por Penitientes, a estação de esqui da região, mas havia acabado de fechar, pois a neve começava a derreter. Nosso timing em Mendoza foi péssimo: havia neve o bastante para impedir o acesso às trilhas do parque Aconcágua, mas insuficiente para manter a estação de esqui aberta. O jeito era se contentar em percorrer a região de carro mesmo. No início da tarde atingimos 2.720m quando chegamos em Puente del Inca, uma ponte natural que cruza o rio Las Cuevas e de onde afloram fontes de águas termais. O lugar já abrigou casas de banho e um luxuoso hotel, mas uma grande avalanche destruiu as construções, poupando apenas a hoje solitária igrejinha de pedra que fica no pé da montanha e deixando para trás as ruínas que ainda se encontram por lá.

O sol forte amenizava um pouco o frio seco típico daquela região muito árida, mas também fazia arder os olhos e queimava, e muito, a pele - o protetor solar era indispensável. Reforçava o protetor labial a cada cinco minutos, mas o que me incomodava mesmo era meu nariz completamente ressecado por dentro, o que me trazia lembranças muito vívidas de um certo mega show que me apresentou pela primeira vez às melecas-pedra (quem foi ao Rock in Rio sabe do que eu estou falando). Em poucos dias, meu nariz já começaria a sangrar a cada assoada, e olha que eu ainda nem tinha chegado no Atacama, o deserto mais árido do mundo.

Finalmente, chegamos no ponto de onde avistaríamos o Aconcágua. Da estrada já conseguíamos ver o gigantesco paredão do cume mais alto das Américas, a 6.962m do nível do mar. Me bateu uma decepção muito grande de não poder caminhar até lá - digo a base do cume, óbvio, não sou nenhuma alpinista - , de chegar tão perto e não cumprir o destino que eu planejei durante tanto tempo. Mas foi só eu dar os primeiros passos na neve para perceber que meu tornozelo estava longe de ficar curado e concluí que era até melhor o parque se encontrar fechado mesmo. Andamos por uns vinte minutos subindo a procura de um lugar para admirar a vista panorâmica e tirar boas fotos. Ainda tinha muita neve, mas minha bota resistiu bem e não deixou meus pés ficarem úmidos nem permitiu que eu ferrasse ainda mais meu tornozelo. As botas alugadas das meninas eram meio ridículas, mas também cumpriram seu papel.

Uns quarenta minutos depois, estávamos de volta ao carro sentindo até um pouco de calor. Após atingir o ápice do nosso passeio, a galera na van estava animadíssima. O motorista colocou um DVD nas alturas com uns sucessos breguíssimos da década de 80 e lá fomos nós cantando, rindo e descendo as montanhas no caminho de volta. Paramos para almoçar perto de Penitientes num restaurante bastante simples com comida mais simples ainda - estilo bandejão - mas pela fome da galera mais parecia um banquete de rei.

Chegamos em Mendoza no fim da tarde e, já sabendo da programação noturna, demos uma descansada no quarto para recuperar as energias depois do nosso longo dia. Na hora do banho não teve jeito, tivemos que encarar o banheiro naquele estado já bem, como posso dizer... usado! Mas pra mim, não tem nada pior num banheiro comunitário do que ter que trocar de roupa depois do banho dentro do box molhado. É uma verdadeira ginástica vestir a calça sem molhar a barra enquanto segura a blusa com uma mão, a cortina com a outra e procura não encostar a bunda na parede suja do box. Mas tudo bem, são detalhes que vão embora quando se está a caminho da Pizza Party organizada pelo staff para reunir toda a galera dos albergues lá no Mendoza Inn. Realmente estavam todos lá, turistas do mundo inteiro sentados numa mesa compriiiida com suas cervejas geladas, jogando conversa fora, fazendo novas amizades, a espera das pizzas e da prometida tequila. É, acho que vai ser uma longa noite.

**************

Restaurante Caro Pepe - Av. Las Heras, 510

domingo, 17 de janeiro de 2010

PAUSA PARA FOTO


E olha que esses eram os pequenos!












Até que estávamos comportados depois do almoço.










Bodega Alta Vista

















Saca só a simpatia dos guias na Zuccardi!
















Fomos recebidos em alto estilo na Familia Zuccardi...

















...mas o dia terminou assim, na xepa...

PAUSA PARA FOTO


O começo do fim!


















Vinhedos ainda secos.

















Secos sim, mas dão ótimas fotos.












Produção totalmente artezanal.



















Pequeno imprevisto na saída...











Bodegas... e muito vinho!

Engana-se muito quem pensa que o turismo em Mendoza gira apenas em torno de vinhedos e boa comida. Os arredores da cidade com suas montanhas, rios e cânions oferecem uma infinidade de opções para a prática de turismo de aventura como rafting, trekking, rapel, cavalgadas, etc. Eu estava disposta a ignorar aquele probleminha no meu tornozelo, já mencionado aqui, e começava a pensar em encarar o trekking de quatro dias até a base do Aconcágua. Infelizmente (ou felizmente) nem precisei tomar essa decisão já que descobrimos que a temporada no Parque do Aconcágua começaria apenas duas semanas após a nossa despedida da cidade. Fiquei bastante frustrada, visto que esse era meu maior motivo de ter desviado nosso percurso até lá. Passada a decepção, resolvi aproveitar as opções que tínhamos pela frente, a começar por um passeio pelas bodegas mendocinas durante um dia inteiro, com direito a degustação de vinho e almoço.

Partimos numa van do Campo Base acompanhadas de gringos dos quatro cantos do planeta rumo ao primeiro vinhedo. A manguaça começou cedo com uma breve degustação de vinhos orgânicos na Bodega Cecchin, a pouco mais de uma hora do nosso café da manhã. Abrimos o tour com uma longuíssima aula teórica sobre tipos de uva e as muitas etapas do processo de produção de um bom vinho. A guia que foi posta a nossa disposição deixava muito a desejar no inglês e dava pra perceber que ninguém ali tinha idéia se ela estava falando sobre uvas ou discutindo filosofia. Mal sabíamos que até o fim do dia nós mesmos poderíamos estar comandando um tour daqueles.

Depois de uma breve degustação (mais breve do que a maioria de nós esperava depois da história sem fim sobre vinhos orgânicos), voltamos pra van e partimos pra onde seria servido nosso almoço. Então, nossa sede de vinho foi finalmente saciada. Chegamos num amplo restaurante onde uma enorme mesa já esperava pelo nosso grupo. Não havia mais ninguém por lá, então não sei bem se o serviço exclusivo foi intencional ou se foi puro tédio do garçom mesmo. Só sei que desde que nos sentamos à mesa, nenhuma taça permaneceu vazia por mais de dois minutos. Em menos de uma hora de confraternização, todos nós já tínhamos virado amigos de infância. Nosso querido garçom servia parrillada (pra mim, massa) e vinho incansavelmente. Acho que alguém deve ter dado uma boa gorjeta pra ele antes sem que ninguém visse e dito "amigão, derruba eles!". Só sei que não restou um só turista "puro" depois daquela orgia gastronômica e assim, felizes e muitíssimos satisfeitos, partimos pra próxima bodega: Alta Vista.

Entendo que a escolha do trajeto provavelmente se deu por quesitos geográficos, mas ainda acho que teria sido mais prudente ter deixado a chatapádedéu Cecchin e sua incompreensível guia pra depois do almoço, quando já estávamos achando tudo a maior diversão do mundo. A visita a Alta Vista foi ótima, com bons guias, bom inglês, boa explicação e muito bom humor da nossa parte. Mais algumas taças de degustação e seguimos nosso tour, aos trancos e barrancos, até a última bodega: Família Zuccardi, de longe a melhor de todas. Pra começar, fomos recebidos com uma rápida (e de-li-ci-o-sa) prova de espumantes. Quer deixar um grupo de turistas bebuns mais felizes ainda? Dê espumante a eles. Vão se sentir chiques, especiais e vão ter a maior boa vontade em escutar pela terceira vez como se dá a fermentação da uva. Pura estratégia, gente, esse povo recebe gringo doidão há anos, eles sabem o que fazem. Deu super certo, e seguimos pelos lindíssimos vinhedos (ainda secos, infelizmente) e pelas luxuosíssimas dependências da bogega, com seus amplos galpões e barris enormes. Lá mesmo fizemos a degustação, de barril em barril, de vinhos de todos os tipos, idades, aromas, sabores... honestamente, acho que eu nunca tomei tanto vinho em um só dia em toda a minha vida. Não só por isso a última parada foi a melhor. A Zuccardi preza pelo excelente atendimento, pela simpatia (e bom preparo) dos guias e pela beleza do lugar. Se você, por algum motivo, tiver que escolher apenas uma bodega para conhecer quando estiver em Mendoza, essa é sem dúvida a melhor escolha. Mas eu recomendo mesmo tirar o dia para se acabar por todas elas, vale a pena!

Não satisfeito em transportar uma penca de turistas animados além da conta, o motorista ainda parou em uma pequena fazenda que produzia artesanalmente azeite, pastas, chocolate e... licores. Meu Deus! Foi o tiro de misericórdia servir absinto àquela gente. Eu me contive com as azeitonas recheadas de provolone que estavam deliciosas e deixei os drinks para as minhas companheiras de viagem, que àquela altura estavam fazendo uma viagem sem volta rumo à ressaca do dia seguinte.

*********

Bodega Cecchin - http://www.bodegacecchin.com.ar/

Alta Vista - http://www.altavistawines.com/

Familia Zuccardi - http://www.familiazuccardi.com/

sábado, 16 de janeiro de 2010

PAUSA PARA FOTO


Espetáculo a caminho de Mendoza.















Mais um pra coleção, dessa vez Argentino.

Mendoza

Nosso objetivo final da viagem sempre foi o deserto do Atacama. Mas é aquela velha história: já que estamos por aqui, por que não dar uma passadinha ali, conhecer esse canto aqui... e assim a viagem vai deliciosamente se esticando!


Foi assim que incluímos Mendoza no nosso roteiro. Já que estávamos em Santiago, por que não...?


A previsão de viagem era de aproximadamente seis horas, mas tudo dependia do tempo de espera na fronteira com a Argentina. A travessia prometia muito mais do que simplesmente se deslocar entre dois países. A estrada que corta as cordilheiras é conhecida por proporcionar um espetáculo aos olhos do viajante com seus picos nevados e lagos esmeralda e por isso optamos por sair logo cedo ao invés de economizar tempo e dinheiro viajando de madrugada. De fato, foi difícil tirar um cochilo sequer ao longo do trajeto, uma vez que cada curva (todas perigosíssimas por sinal) revelava uma nova paisagem ainda mais bonita que a anterior. Infelizmente, nenhuma de nós três sentia-se segura o bastante para encarar aquela travessia de carro, mas eu pessoalmente recomendo. Dá vontade de parar a cada minuto para fotografar ou simplesmente admirar aquele visual impressionante.


A parada na fronteira com a Argentina não incomodou pela demora na alfândega. O problema maior era o frio insuportável das montanhas ao qual os turistas eram submetidos sem compaixão alguma. Em um determinado momento eu me perguntei o que tinha feito de tão ruim aos argentinos para eles me tratarem daquele jeito. Depois de esperar na fila, mostrar passaporte, abrir mala, levar umas cantadas do agente argentino (sim, os agentes argentinos cantam as turistas), tomar um café escaldante, enfim voltamos pro ônibus e seguimos viagem. Ainda restavam algumas horas até Mendoza, tempo suficiente para assistir a um filminho, escutar uma música e tirar um bom cochilo!


Senta que lá vem o causo...


O filme em questão, sobre duas turistas que são sequestradas para serem vendidas como prostitutas - uma temática super conveniente para a ocasião, né?! - causou comoção no ônibus! Chama-se "Taken", assistam, meninas, vão se sentir super seguras pra viajar sozinhas por aí.... Mesmo com um som péssimo e com uma imagem pior ainda, todo mundo se envolveu com o drama das meninas, gemendo e gritando nos momentos de tensão - inclusive a gente! Só sei que "taken" virou nosso código de emergência para o resto da viagem. Mão boba, olhares esquisitos, homens mal-intencionados? Era só mandar "taken" que logo a mensagem era captada e o indivíduo enxotado pro seu canto de onde não deveria ter saído. Recomendo a técnica. Infalível.


Voltando...


O albergue que escolhemos é o Campo Base, que tem a vantagem de ter sua própria agência de viagens e organizar tours e expedições pelos arredores de Mendoza para seus hóspedes. Logo, nada de velhinhos ou casais em lua-de-mel, só mesmo a galera dos hostels (alem do nosso, existem mais dois albergues no grupo: International Mendoza e Mendoza Inn). A primeira coisa que fizemos assim que nos instalamos no quarto (um capítulo à parte, o quarto) foi escolher e fechar todos os passeios dos dias seguintes e tentar descolar um desconto camarada. Eram muitas as opções e algumas um pouco caras, então optamos por seguir aquelas que já estavam no nosso roteiro com algumas exceções, como la cabalgata e um tour de bike.


Tudo resolvido, partimos pra comer algo, já que estávamos há anos luz da nossa última refeição no Chile, mas a siesta transformou nossa missão numa jornada sem fim. Percorremos as ruas de Mendoza sem achar um único restaurante, bar, boteco, café, nada aberto. Isso na cabeça de um carioca - que toma chopp no Jobi às 10 da manhã e come uma pizza na Guanabara às 4 da madrugada - é impensável e extremamente irritante. Vagamos por quase uma hora e adentramos cegamente o primeiro restaurante que abriu as portas, mas tivemos sorte! Além de muito bom, era barato e oferecia ótimo serviço, coisa rara entre os garçons argentinos... Aproveitamos a chance de degustar bons vinhos por ótimo preço e pedimos logo dois mais uma deliciosa massa e pronto, energias renovadas.


De volta ao albergue, encaramos o banho num banheiro nada convidativo, mas que garantia água caliente e um pouquinho de privacidade entre tanta gente. O Campo Base é um hostel que tem lá seus defeitos, os quartos são apertados, o banheiro não é dos melhores, mas proporciona uma excelente estadia graças ao staff que é muito receptivo, festivo e bem preparado. Sem falar no bar e na recepção onde ficam reunidos turistas de todo o mundo num clima de total confraternização. Ao longo dos nossos cinco dias na Argentina, fizemos grandes amizades e voltamos pro Chile com a certeza de que nossa "escapadinha" pro país vizinho foi uma excelente idéia.


***********


TurBus (travessia Chile - Argentina) - www.turbus.cl/


Campo Base Hostel - http://www.hostelcampobase.com.ar/

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

PAUSA PARA FOTO

 Esse muro em frente a casa do Neruda rendeu uma  longuíssma sessão de fotos, mesmo na chuva! Mas merece, né?
La Chascona

La Chascona é puro charme...

Dando início a tradição!

Pescado no Mercado Central

La Chascona e Mercado Central

2° dia

A chuva não deu trégua a noite toda e o dia amanheceu feinho, feinho... Mas nem por isso desistimos da idéia de caminhar até La Chascona, a antiga casa de Pablo Neruda em Santiago. O museu fica muito perto do nosso hostel e uma caminhada por ali parecia um bom ponto de partida para conhecer a cidade, mesmo com o tempo ruim.

Bellavista é sim um bom hostel mas, como em muitos albergues por aí, o café da manhã é aquela dureza. Uns pães esquisitos (por sinal, iguais aos pães horríveis que a gente comia na Bolívia), manteiga, marmelada e café - o suco (natural da caixinha...) já tinha acabado quando a gente chegou. Mas a comilança não era das piores: o pão quando esquentado ficava razoável, o café tava saboroso, o suco devia ser gostosinho. O único problema eram os turistas mesmo, muito mal-educados! É aquela velha história, ao longo de uma hospedagem em albergue você tem a sorte de conhecer muita gente legal, mas também dá o azar de cruzar com uma galera que não prima pela limpeza nem pela boa educação. Paciência. Faz parte.

Deixamos os ogros se matando por um pãozinho na cozinha do hostel e fomos encarar o frio lá fora. As ruas ainda estavam vazias quando a gente saiu: além da chuva fina, era domingo. Foi gostoso passear pela cidade fantasma e fria, escutando apenas nossas risadas nervosas com o frio, mas felizes pela viagem que estava começando.

La Chascona foi a casa que Neruda mandou construir para Matilde, sua amante, e onde eles viveram juntos por muitos anos. A casa por si só já vale a visita, um lugar muito diferente, que conta com três ambientes interligados por escadas, pátios e até um rio. Fora isso, lá também estão inúmeros objetos de coleção do poeta - quadros, antiguidades, peças de decoração - assim como utensílios do dia a dia, como livros, cartas e louça. Apesar do vandalismo cometido pelos militares na época de sua morte, a casa se tornou um belíssimo museu que conta com visitas guiadas a toda hora e uma loja de souvenir irresistível.

Logo que chegamos, sentamos na lojinha do museu pra tomar um café bem quente e esperar pelo nosso grupo, que não demorou a sair. A visita durou aproximadamente 30 minutos e foi um mergulho na vida e na obra de Pablo Neruda. Aos poucos a gente começava a se interar melhor sobre importantes acontecimentos da história do Chile, que até então nunca havíamos dado muita atenção. E não paramos de aprender até a hora de voltar pra casa.

Depois da visita inspiradora a La Chascona, decidimos pegar o metrô até o Mercado Central e procurar algum lugar para almoçar, já que a chuva não dava trégua. Logo na chegada, fomos abordadas por um simpático garçom brasileiro que nos indicou o restaurante El Galeón. Não sei o que acontece com a gente, se são as roupas, o semblante, o cheiro, a voz... todo mundo sabe que somos brasileiras de longe, sem pronunciarmos uma palavra sequer. Muito estranho! Enfim... Antes de comer tentamos dar uma volta pelo Mercado para ver os peixes e mariscos recém chegados do mar do Pacífico, mas andar por lá não é tarefa fácil para um turista, ainda mais quando se trata de três mulheres sozinhas e com "brasileiras" escrito na testa, como nós. Fomos tão abordadas, que se locomover nos estreitos corredores do mercado ficou impossível, e assim que tivemos uma oportunidade, caímos fora dali - direto pro El Galeón!

O restaurante mais famoso do Mercado Central de Santiago é o Donde Augusto, obviamente o maior, o mais cheio e o mais caro também. Preferimos seguir o conselho do nosso novo amigo garçom e nos refugiamos no aconchegante El Galeón prontas para encarar um típico almoço chileno, mesmo que para isso gastássemos um pouquinho a mais do que previa o orçamento diário. De cara um bom vinho, (começou nesse dia a tradição de fotografar todos - e foram muitos - os vinhos consumidos ao longo da viagem) e um excelente ceviche pra abrir o apetite! Por fim, um pescado con ensalta. Delícia. Estávamos prontas pra próxima parada!

Chove, chove, chove, chuuuuuuuuuuva....

O tempo não estava ajudando o nosso momento "vamos bater perna e seguir sem rumo pela cidade"! Ali perto do Mercado fica o Centro Cultural Mapuche, mas não tinha nada rolando por lá quando chegamos. Com o frio e a chuva apertando, não tínhamos escolha a não ser voltar pro albergue. Antes, uma passada na rodoviária pra garantir nossas passagens para Mendoza. Como teríamos mais um fim de semana em Santiago antes de partir pro Atacama, nem tudo estava perdido.

A noite em Bellavista é super animada e o Patio Bellavista é uma boa pedida pra quem está atrás de restaurantes, bares, cafés e lojinhas de souvenir. Depois da noitada da véspera e já pensando na viagem do dia seguinte, nos contentamos com uma pizza e algumas cervejinhas no pub Dublin para depois voltar e cair na cama.


***********

La Chascona: maiores infos no site http://www.fundacionneruda.org

Restaurante El Galeón - Mercado Central de Santiago
www.elgaleon.cl
www.mercadocentral.cl/

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PAUSA PARA FOTO


Cervejinha merecida após longa viagem! Só não estava tão gelada quando a gente gosta...

NOVIDADE

Mochileiros de plantão,
confiram as novidades do blog e ainda muitas dicas de viagem agora pelo twitter!
Sigam @pehnochao e boa viagem!!

Pé na estrada

26/6/09 - 1° dia


Às três da madrugada toca o despertador anunciando a hora de chamar o táxi e partir pro aeroporto. Àquela hora da matina ninguém raciocinava muito bem e nós três entramos mudas e saímos caladas do carro. A fila do check-in só piorou nosso estado semi-acordado e uma vez no avião, pegamos no sono antes mesmo do decolar.

Vôo tranquilo e energias renovadas. Mas só até dar de cara com a fila monstruosa no aeroporto de São Paulo. Inacreditável e totalmente desnecessária! Não entendo pra quê revistar todas as pessoas que já passaram por toda aquela chatice no outro aeroporto. Pegamos o vôo pra Santiago já famintas e ainda recebemos de cara a agradável notícia de que nosso avião atravessaria uma área de instabilidade. A-do-ro quando o piloto bota esse terror. Resultado: o serviço de bordo foi interrompido assim que a aeromoça serviu o passageiro sentado na minha frente. Todos comiam a nossa volta, menos a gente. Ótimo! Famintas e encagaçadas com a turbulência.

Enfim comemos, dormimos, assistimos filmes ótimos e pronto: chegamos em Santiago do Chile por volta das 13h. Saímos em busca das passagens para Calama, pois já sabíamos que ia sair muito mais em conta comprá-las no próprio aeroporto. E de fato era - U$D 300.

Quando conseguimos escapar do assédio de uma enxurrada de taxistas, pegamos o Metrobus e em seguida o metrô para chegar no nosso albergue Bellavista. Ótima localização, perto do metrô e de uma infinidade de bares e restaurantes. O plano era chegar no albergue, largar as mochilas no quarto e sair em busca de um almoço decente, mas assim que pisamos no hostel a Marcia descobriu que tinha perdido a carteira (ou que alguém tinha dado sumiço nela). Aí, toca de sair correndo pro metrô, falar com segurança, moça do guichê, faxineira e nada... O jeito era se conformar e deixar isso pra trás, coisa que a dona a carteira fez com o seu bom humor e otimismo de sempre. Não adianta, viagem tem que ser em boa companhia e eu estava entre as melhores!!

Próxima parada, almoço! Peloamordedeus! Enquanto a Marcia tomava as providencias em relação ao cartão de crédito, Ira e eu nos acomodamos felizes no Galindo, um restaurante charmosinho perto do Bellavista Hostel. Antes de mais nada, "una cerveza, por favor!". Depois da segunda - ou seria a terceira - garrafa, enfim comemos. Eu quis começar fazendo jus à fama dos pescados do Chile e pedi um salmão com papas. Já as meninas preferiram arriscar um prato mais típico ainda e mandaram ver no pastel de choclo. Se é bom ou ruim, vai do gosto de cada um, mas vamos dizer que não foi a refeição preferida delas.

De volta ao albergue, ficamos sabendo que haveria um assado - o famoso churrascão - no hostel La Chimba, e que todos estavam convidados. A idéia agradou, claro, e partimos pra lá depois de uma boa e merecida soneca. Como chovia cântaros e fazia um frio desgraçado, o churrasco não estava mais rolando quando a gente chegou, o que foi compensado com muito vinho ao pé da lareira com nossos novos amigos brasileiros. A empolgação da primeira noite ainda nos levou ao bar Constituicion para algumas doses de tequila, cerveja e muita música.

***************

La Chimba Hostel - E. Pinto Lagarrigue 262, Barrio Bellavista, Santiago


Bar Constituicíon - Rua Constituicíon n°61


Restaurante Galindo – Rua Dardignac, n° 98

sábado, 9 de janeiro de 2010

Na mochila

Fazer a mochila deveria ser uma etapa muito divertida por tudo o que esse ato representa, mas confesso que odeio organizar a mala. Morro de preguiça e invariavelmente deixo pra última hora. Começo vagarosamente separando tudo o que me parece indispensável para a viagem levando em consideração o clima, os eventos, os passeios. Depois é hora de pensar nos itens de higiene e farmácia e descobrir que não tem absolutamente nada daquilo em casa. Adicionar à lista de coisas a fazer: "passar na drogaria urgente!". Em seguida, pensar nos eletrônicos: câmera, bateria, recarregador, pilhas, cabo usb, ipod, cartão de memória. E a lista cresce: "comprar pilha", "recarregar baterias", "comprar fita mini dv". E aí já deu pra perceber que não vai dar tempo de terminar tudo e é hora de estabelecer prioridades. É quando percebo que não tenho um único par de meias limpo na gaveta e a lista ganha, em letras garrafais, o item de maior urgência: LAVAR ROUPA!!!


No fim das contas tudo entra nos eixos como sempre e, mesmo aos trancos e barrancos, posso afirmar com orgulho que nunca esqueci nenhum item de extrema importância, apesar de sempre deixar metade das coisas para trás - afinal trata-se de um mochilão de 80L. Com o passar dos anos, tenho conseguido levar cada vez menos bagagem, uma verdadeira arte!!