sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Alta Montaña

O dia intenso de ontem ainda terminou numa cervejada no (indicadíssimo) restaurante Caro Pepe com direito a uma esticadinha no bar do nosso hostel, pra tomar a(s) saideira(s) com a simpática turma do staff e outros hóspedes.


Acordar às 7 da matina depois da peregrinação de ontem foi dureza. Eu corri pro chuveiro, agora que descobri que esse é o horário perfeito pro banho, quando a água ainda tá quente e o banheiro, limpinho. Já rolava uma certa movimentação na cozinha quando descemos, era a galera se preparando para partir rumo a Alta Montaña, assim como nós. O plano era sair de Mendoza rumo às cordilheiras percorrendo as paisagens e cidades mais características e marcantes da região, passando pela entrada do Parque do Aconcágua (a neve começou a cair tarde esse ano e o parque ainda está fechado, infelizmente) até chegar à fronteira com o Chile. Assim como no dia anterior, buscamos outros turistas pelos albergues e seguimos viagem com a van cheia de gringos animados. A companhia estava bem diversificada: franceses, holandeses, americanos, sul-africanos, chilenos, argentinos e, claro, brasileiros. Alguns estiveram nas bodegas com a gente na véspera, e já tínhamos virado amigos desde criancinha.

Paramos ainda antes de chegar à cordilheira, na pequena vila de Potrerillos, onde o frio já estava intenso e a gente pode desfrutar de um bom chocolate quente e se preparar para o frio ainda maior que vinha pela frente. As meninas estavam de tênis e preferiram alugar botas especiais pra neve. Eu estava com minha bota de trekking impermeável e resolvi arriscar ficar com elas mesmo, porém como conheço muito bem meus pontos fracos aproveitei pra comprar uma luva bem mais potente do que as minhas luvinhas de lã. Talvez tenha exagerado, porque a luva era tão grossa que era impossível fazer qualquer coisa com as mãos quando estava com elas... Mas tudo bem, dedinhos congelados também não servem pra nada!

Seguimos viagem pela estrada ainda muito árida e com pouca vegetação passando por Uspallata, um pequeno centro urbano com lojas, alojamentos e restaurantes. Me pareceu uma boa opção para pernoite pra quem pretende percorrer com calma a região. A medida que subíamos em direção a cordilheira, a paisagem ia mudando. Aos poucos, a terra batida foi dando lugar a formas mais montanhosas até que a neve apareceu e, em pouco tempo, atingimos um platô de onde se tinha uma belíssima vista panorâmica das montanhas, seus picos nevados e seus vales. A câmera fotográfica ficou frenética a partir daí e não parou mais. O visual era mesmo impressionante.

Passamos por Penitientes, a estação de esqui da região, mas havia acabado de fechar, pois a neve começava a derreter. Nosso timing em Mendoza foi péssimo: havia neve o bastante para impedir o acesso às trilhas do parque Aconcágua, mas insuficiente para manter a estação de esqui aberta. O jeito era se contentar em percorrer a região de carro mesmo. No início da tarde atingimos 2.720m quando chegamos em Puente del Inca, uma ponte natural que cruza o rio Las Cuevas e de onde afloram fontes de águas termais. O lugar já abrigou casas de banho e um luxuoso hotel, mas uma grande avalanche destruiu as construções, poupando apenas a hoje solitária igrejinha de pedra que fica no pé da montanha e deixando para trás as ruínas que ainda se encontram por lá.

O sol forte amenizava um pouco o frio seco típico daquela região muito árida, mas também fazia arder os olhos e queimava, e muito, a pele - o protetor solar era indispensável. Reforçava o protetor labial a cada cinco minutos, mas o que me incomodava mesmo era meu nariz completamente ressecado por dentro, o que me trazia lembranças muito vívidas de um certo mega show que me apresentou pela primeira vez às melecas-pedra (quem foi ao Rock in Rio sabe do que eu estou falando). Em poucos dias, meu nariz já começaria a sangrar a cada assoada, e olha que eu ainda nem tinha chegado no Atacama, o deserto mais árido do mundo.

Finalmente, chegamos no ponto de onde avistaríamos o Aconcágua. Da estrada já conseguíamos ver o gigantesco paredão do cume mais alto das Américas, a 6.962m do nível do mar. Me bateu uma decepção muito grande de não poder caminhar até lá - digo a base do cume, óbvio, não sou nenhuma alpinista - , de chegar tão perto e não cumprir o destino que eu planejei durante tanto tempo. Mas foi só eu dar os primeiros passos na neve para perceber que meu tornozelo estava longe de ficar curado e concluí que era até melhor o parque se encontrar fechado mesmo. Andamos por uns vinte minutos subindo a procura de um lugar para admirar a vista panorâmica e tirar boas fotos. Ainda tinha muita neve, mas minha bota resistiu bem e não deixou meus pés ficarem úmidos nem permitiu que eu ferrasse ainda mais meu tornozelo. As botas alugadas das meninas eram meio ridículas, mas também cumpriram seu papel.

Uns quarenta minutos depois, estávamos de volta ao carro sentindo até um pouco de calor. Após atingir o ápice do nosso passeio, a galera na van estava animadíssima. O motorista colocou um DVD nas alturas com uns sucessos breguíssimos da década de 80 e lá fomos nós cantando, rindo e descendo as montanhas no caminho de volta. Paramos para almoçar perto de Penitientes num restaurante bastante simples com comida mais simples ainda - estilo bandejão - mas pela fome da galera mais parecia um banquete de rei.

Chegamos em Mendoza no fim da tarde e, já sabendo da programação noturna, demos uma descansada no quarto para recuperar as energias depois do nosso longo dia. Na hora do banho não teve jeito, tivemos que encarar o banheiro naquele estado já bem, como posso dizer... usado! Mas pra mim, não tem nada pior num banheiro comunitário do que ter que trocar de roupa depois do banho dentro do box molhado. É uma verdadeira ginástica vestir a calça sem molhar a barra enquanto segura a blusa com uma mão, a cortina com a outra e procura não encostar a bunda na parede suja do box. Mas tudo bem, são detalhes que vão embora quando se está a caminho da Pizza Party organizada pelo staff para reunir toda a galera dos albergues lá no Mendoza Inn. Realmente estavam todos lá, turistas do mundo inteiro sentados numa mesa compriiiida com suas cervejas geladas, jogando conversa fora, fazendo novas amizades, a espera das pizzas e da prometida tequila. É, acho que vai ser uma longa noite.

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Restaurante Caro Pepe - Av. Las Heras, 510

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