sábado, 16 de janeiro de 2010

Mendoza

Nosso objetivo final da viagem sempre foi o deserto do Atacama. Mas é aquela velha história: já que estamos por aqui, por que não dar uma passadinha ali, conhecer esse canto aqui... e assim a viagem vai deliciosamente se esticando!


Foi assim que incluímos Mendoza no nosso roteiro. Já que estávamos em Santiago, por que não...?


A previsão de viagem era de aproximadamente seis horas, mas tudo dependia do tempo de espera na fronteira com a Argentina. A travessia prometia muito mais do que simplesmente se deslocar entre dois países. A estrada que corta as cordilheiras é conhecida por proporcionar um espetáculo aos olhos do viajante com seus picos nevados e lagos esmeralda e por isso optamos por sair logo cedo ao invés de economizar tempo e dinheiro viajando de madrugada. De fato, foi difícil tirar um cochilo sequer ao longo do trajeto, uma vez que cada curva (todas perigosíssimas por sinal) revelava uma nova paisagem ainda mais bonita que a anterior. Infelizmente, nenhuma de nós três sentia-se segura o bastante para encarar aquela travessia de carro, mas eu pessoalmente recomendo. Dá vontade de parar a cada minuto para fotografar ou simplesmente admirar aquele visual impressionante.


A parada na fronteira com a Argentina não incomodou pela demora na alfândega. O problema maior era o frio insuportável das montanhas ao qual os turistas eram submetidos sem compaixão alguma. Em um determinado momento eu me perguntei o que tinha feito de tão ruim aos argentinos para eles me tratarem daquele jeito. Depois de esperar na fila, mostrar passaporte, abrir mala, levar umas cantadas do agente argentino (sim, os agentes argentinos cantam as turistas), tomar um café escaldante, enfim voltamos pro ônibus e seguimos viagem. Ainda restavam algumas horas até Mendoza, tempo suficiente para assistir a um filminho, escutar uma música e tirar um bom cochilo!


Senta que lá vem o causo...


O filme em questão, sobre duas turistas que são sequestradas para serem vendidas como prostitutas - uma temática super conveniente para a ocasião, né?! - causou comoção no ônibus! Chama-se "Taken", assistam, meninas, vão se sentir super seguras pra viajar sozinhas por aí.... Mesmo com um som péssimo e com uma imagem pior ainda, todo mundo se envolveu com o drama das meninas, gemendo e gritando nos momentos de tensão - inclusive a gente! Só sei que "taken" virou nosso código de emergência para o resto da viagem. Mão boba, olhares esquisitos, homens mal-intencionados? Era só mandar "taken" que logo a mensagem era captada e o indivíduo enxotado pro seu canto de onde não deveria ter saído. Recomendo a técnica. Infalível.


Voltando...


O albergue que escolhemos é o Campo Base, que tem a vantagem de ter sua própria agência de viagens e organizar tours e expedições pelos arredores de Mendoza para seus hóspedes. Logo, nada de velhinhos ou casais em lua-de-mel, só mesmo a galera dos hostels (alem do nosso, existem mais dois albergues no grupo: International Mendoza e Mendoza Inn). A primeira coisa que fizemos assim que nos instalamos no quarto (um capítulo à parte, o quarto) foi escolher e fechar todos os passeios dos dias seguintes e tentar descolar um desconto camarada. Eram muitas as opções e algumas um pouco caras, então optamos por seguir aquelas que já estavam no nosso roteiro com algumas exceções, como la cabalgata e um tour de bike.


Tudo resolvido, partimos pra comer algo, já que estávamos há anos luz da nossa última refeição no Chile, mas a siesta transformou nossa missão numa jornada sem fim. Percorremos as ruas de Mendoza sem achar um único restaurante, bar, boteco, café, nada aberto. Isso na cabeça de um carioca - que toma chopp no Jobi às 10 da manhã e come uma pizza na Guanabara às 4 da madrugada - é impensável e extremamente irritante. Vagamos por quase uma hora e adentramos cegamente o primeiro restaurante que abriu as portas, mas tivemos sorte! Além de muito bom, era barato e oferecia ótimo serviço, coisa rara entre os garçons argentinos... Aproveitamos a chance de degustar bons vinhos por ótimo preço e pedimos logo dois mais uma deliciosa massa e pronto, energias renovadas.


De volta ao albergue, encaramos o banho num banheiro nada convidativo, mas que garantia água caliente e um pouquinho de privacidade entre tanta gente. O Campo Base é um hostel que tem lá seus defeitos, os quartos são apertados, o banheiro não é dos melhores, mas proporciona uma excelente estadia graças ao staff que é muito receptivo, festivo e bem preparado. Sem falar no bar e na recepção onde ficam reunidos turistas de todo o mundo num clima de total confraternização. Ao longo dos nossos cinco dias na Argentina, fizemos grandes amizades e voltamos pro Chile com a certeza de que nossa "escapadinha" pro país vizinho foi uma excelente idéia.


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TurBus (travessia Chile - Argentina) - www.turbus.cl/


Campo Base Hostel - http://www.hostelcampobase.com.ar/

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