terça-feira, 20 de março de 2007

Geisers e águas termais...graças a Deus!

7° dia

As luzes se apagaram no alojamento por volta das dez horas, mas acho que só fui pegar no sono depois de meia-noite. O frio que fazia dentro do nosso quarto era desumano, e a sensação que eu tinha era a de que todos estavam dormindo numa boa menos eu. No dia seguinte me provaram que eu estava errada, com exceção do casal italiano, que dormiu de roupas íntimas num saco de dormir punk que já tinha usado no Everest. Covardia. Ah, e como sabíamos que o Pierre estava de roupas íntimas? Porque ele fez questão de trocar de roupa na nossa frente. E da mulher. Coisa de europeu...

Assim que me deitei, senti que a noite seria longa. Ajeitava os casacos de um lado, o saco de dormir descobria de outro. Quando os dois se entendiam, o gorro dava uma levantada nas orelhas, e toca de sair do casulo pra cobrir as coitadinhas. E foi nesse estica e puxa que eu peguei no sono, horas depois de me deitar no breu total. A Iraman ainda sentia as mazelas do ar seco e tinha dificuldades para respirar durante o sono, o que proporcionava roncos quase que pornográficos, pra nossa vergonha total, já que estávamos dividindo o aposento com estranhos!

As cinco da matina fomos acordados gentilmente pelo Matteo. A Iraman bem que tentou trancar a porta na cara dele num espontâneo ato de desespero, mas ele, com seu jeitinho doce de ser, tirou todo mundo da cama rapidinho. A idéia era ver o sol nascer nos geisers. O frio que fazia no nosso quarto causava um certo pânico em pensar como estaria a situação além daquelas paredes. A ida ao banheiro foi vagarosa e, escovar os dentes, uma tortura. Aliás, o banheiro coletivo do alojamento é um capítulo à parte. Ele consistia em uma pia, duas privadas sem tampa e um tonel de água. Pra que o tonel? Depois de muito debater descobrimos sua finalidade: com a ajuda de um balde, ele servia como uma eficiente descarga. Prático, não?

Como dormi com todas as minhas roupas no corpo, não tive muitas dificuldades em me arrumar pra sair. Tomei um café escaldante com o Pierre e ainda era noite lá fora. O termômetro marcava 4° dentro do alojamento. Nem quis saber quanto fazia lá fora com o vento impiedoso do deserto. Na hora de partir eu já estava quentinha, mas meus pés doíam de forma que eu só conseguia pensar nisso. Dentro do carro ninguém pronunciava uma palavra. A certa altura decidi tirar minhas botas para massagear meus dedos e tentar aliviar a dor. O sol começava a levantar e todos os seis olhavam juntos a sombra diminuindo, até que os primeiros raios da manhã pegou nosso carro e todo mundo comemorou como num gol da seleção! Finalmente começaríamos a esquentar!!

Ao nascer do sol chegamos aos geisers vulcânicos a exatos 4870m de altitude. Vapores fortíssimos saíam do chão fazendo uma barulheira divertida, e em pouco tempo o frio já não incomodava mais. De lá, seguimos para as águas termais que chegavam a até 40°. Não podia mais imaginar o que seria um banho quente e pela quantidade de turista que havia nas termas, percebi que eu não era a única incomodada com o frio. Era um tal de gente branca pra lá e pra cá de cueca, calcinha, sutiã... biquini e sunga pra quê?? Decidimos eu, Isa e Pierre colocar nosso pés pra degelar naquela água, já que ninguém no mundo me faria tirar a roupa naquele frio todo. E assim que eu coloquei o primeiro dedinho na água escaldante, percebi que estava vivendo uma das melhores sensações da minha vida. E meus pés me agradecem por isso até hoje!

A Laguna Branca foi nossa próxima parada, já muito perto da fronteira com o Chile. Tanto o Diego quanto os italianos se despediram da gente naquele ponto. Os gringos atravessaram pro Deserto do Atacama e o Diego voltou pra Uyuni, já que tinha decidido fazer o tour de apenas 3 dias. Sábia decisão.

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