sábado, 7 de abril de 2007

Terceiro dia de trilha

17° dia

O terceiro dia de trilha prometia ser muito mais tranquilo. Depois de ter superado subidas sem fim no dia anterior, acredito que todas nós nos sentíamos prontas pra encarar qualquer parada.

Saímos mais cedo do que de costume para passar em mais um posto de controle do governo, e o quanto antes chegássemos melhor para evitar a longa fila de turistas que se forma. Seguimos nosso caminho com o dia amanhecendo. A paisagem já começava a mudar bastante a medida que entrávamos pela floresta. Como a trilha era consideravelmente mais fácil, caminhamos juntas e a Mabi teve tempo e tranquilidade para nos mostrar os pássaros e plantas típicas da mata local. Volta e meia chegávamos à ruínas incas e parávamos para a visita, mas não para o descanso, porque a cada ruína, escadas e mais escadas esperavam por nós. Passamos por Choquesuysuy, Phuyupatamarca, Intipata e Wiñaywayna.

O almoço foi caprichado e, como sempre, carregado no carboidrato: arroz, macarrão e aipim! Pode parecer uma estranha combinação, mas estava uma delícia. Mabi acalmou nossas pernas cansadas avisando que a outra metade do dia seria apenas de descida. Pé na trilha de novo para mais quatro horas de andança. Acabamos nos separando novamente na descida. Pra baixo todo santo ajuda, mas não te carrega no colo. Haja joelho e haja coxa pra descer todas aquelas ladeiras. A última hora de caminhada foi um teste de paciência: ladeiras em zigue-zague e nada do nosso acampamento chegar. Muito exaustivo! Mas era o último dia, e pensar que na manhã seguinte estaríamos em Machu Picchu nos dava uma energia a mais.

Chegamos ao nosso destino mais cedo que nos outros dias e aproveitei pra dar uma boa descansada antes do lanche. O acampamento em Wiñaywayna é o que tem a melhor infraestrutura de todos e proporciona bar, música e cerveja aos turistas sedentos por uma noite de despedida à altura daquela experiência. Nosso jantar também teve um tom saudosista com direito a vinho e um brinde especial junto aos porteadores, os verdadeiros heróis daquela expedição. Com mais de trinta quilos nas costas, eles passavam por nós apressados para nos receber horas depois com um sorriso no rosto. Sempre educados e cortezes, deixaram no chinelo o tratamento que recebemos do Matteo durante nossa passagem pelo deserto boliviano.

Depois da celebração com todo o grupo, fomos dar uma volta pelo acampamento e tomar uma cerveza, afinal tínhamos muito o que comemorar! Infelizmente, ao contrário de todas as indicações que havíamos tido sobre a trilha inca, inclusive da Marisol, descobrimos que havia ducha com água quente por lá. Como não tínhamos sequer toalhas para o banho, nem quis ver como era o banheiro pra não morrer de raiva. Meu cabelo àquela altura era um pasta de fios duros e sujos presos com uma bandana, que estrategicamente escondia o desastre do resto do mundo. As unhas se recusavam a permanecer limpas por mais que eu tentasse dar um jeito no caos. O resto, porém, já havia sido cuidadosamente asseado com baby-wipes, cujo cheiro me enjoa até hoje!

O plano para o dia seguinte era acordar às quatro da matina para chegar à Inti Punku a tempo de ver o sol nascer na cidade sagrada dos incas. Então, nada de ficar perambulando pelo acampamento até tarde! E boa noite.

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