terça-feira, 24 de abril de 2007

De volta a Cusco

19° dia

Levantamos umas quatro e pouco da manhã e ainda tivemos que acordar nossos vizinhos brasileiros que estavam sem despertador. Se bem que todos por ali já estavam mais que acordados, visto que a obra no hotel começou por volta das quatro da matina e não deixou um só hóspede dormindo...

Ainda era noite quando nosso trem saiu pontualmente às cinco e meia da manhã, repleto de turistas sonolentos. As poltronas eram confortáveis o suficiente para uma rápida soneca antes da chegada à Ollantaytambo, de onde partem os ônibus para Cusco. Mas o clarear do dia começava a revelar uma linda paisagem e aos poucos fomos acordando uma por uma para contemplar as belezas do nosso caminho de volta. Chegamos bem despertas, mas nada prontas para a surpresa: nossa baldeação era um verdadeiro caos. Dezenas de turistas disputando os lugares dos poucos microônibus que ali estavam estacionados. Outros tantos moradores locais ofereciam vaga em táxis e vans. E nós quatro ali sem ter idéia do que fazer. Se estapear por um lugar no ônibus ou gastar uma grana alta e voltar à cidade de uma forma um pouco mais civilizada? Para nossa sorte, os dois brasileiros que estavam no nosso hotel em Águas Calientes se uniram ao nosso drama e, juntos, dividimos um táxi. O que também foi um certo sufoco, visto que éramos seis pessoas além do motorista num carro que deveria ter a idade de todos nós somados. A situação nos proporcionou uma hora de risadas nervosas no carro, principalmente do corajoso voluntário que viajou na mala.

Chegamos a Cusco pela manhã e o quarto no nosso antigo hotel já estava devidamente reservado. Tudo acertado, fomos tomar desayuno com nossos mais novos companheiros de viagem. Depois de quatro dias no mato, aproveitamos pra tirar a barriga da miséria e caímos de boca no desjejum mais completo do cardápio: café, leite, suco, pão, queijo, ovo, crepe e tudo mais que se pode imaginar! Depois do banquete, nos separamos com a promessa de curtir a noite juntos mais tarde. Até lá, decidimos passar o tempo vagando pelas ruas da cidade e, principalmente, descansando.

Depois de um banho não tão bom quanto eu merecia (nosso chuveiro tinha uma quedinha pela água fria) fomos encontrar com os brasileiros para conhecer a famosa pizza quilométrica. Para a nossa surpresa, a tal pizzaria ficava na mesma rua do nosso hotel, tão perto que acabou virando parada obrigatória nos dias que seguiram. Nem preciso dizer que medir nossa nova musa em quilômetros era um exagero, mas posso assegurar que a danada alimentou metade do grupo, que agora já contava com oito esfomeados (inclusive o guia peruano que levou os meninos à Machu Picchu via Salcantay, a difícil trilha alternativa que dura 5 dias).

Depois de muita pizza e muita cerveja era hora de gastar as calorias extras nos (muitos) bares de Cusco. Os abundantes free drinks, oferecidos por garçons na porta dos bares e boates para chamar a clientela, garantiram o máximo de animação da noite pelo mínimo de gasto. Quando a maratona cansou, paramos de vez no Mama América, que, naquela noite, parecia ser o mais divertido (leia-se: com mais turistas bêbados fazendo insanidades). Apenas quatro remanescentes do grupo sobreviveram até o fim da noite, enquanto a outra metade rendeu-se aos prazeres da cama (calma, sem duplo sentido!). Depois de assistir a um genuíno striptease de possíveis suecos (quem sabe alemães ou talvez holandeses) e duvidar do próprio estado etílico dançando ao som da outrora famosa música baiana Dança do Vampiro (é impressionante o que se escuta na noite cusqueña), a metade da qual eu fazia parte também deixou o local. Em boa hora.

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Que bom que às onze já estávamos dormindo no hotel...

Aguas Calientes

Deixamos Machu Picchu um pouco depois das três horas num microonibus que sai em direção à Aguas Calientes de meia em meia hora. Por ser a base dos viajantes que vão ou voltam das ruínas, a cidade, apesar de pequena, é muito charmosa, cheia de bares, restaurantes e lojinhas. Mesmo assim, só pensávamos em ir pro hotel, trocar de roupa e conhecer as famosas águas termais da cidade. Seria nosso primeiro banho em quatro dias, logo a ansiedade... e a sujeira eram grandes.

Encontramos com a Mabi, nossa guia, pouco depois de chegar à cidade e ela nos levou ao nosso hotel para, enfim, se despedir. O lugar era um tanto estranho, parecia que ainda estava em construção mas, como ficaríamos por lá apenas uma noite, não vimos muito problema na obra. Depois de criar coragem para soltar meu cabelo e ver o estrago causado por quatro dias longe de um bom banho (meus fios lisos ganharam cachos que nem um baby liss seria capaz de fazer), colocamos o biquíni e fomos atrás das aguas calientes.

Subimos a rua principal da cidade felizes da vida com a perspectiva de um relaxante banho quente, mas quando chegamos a decepção foi total. Acreditava ter chegado num piscinão de Ramos...quente. Um sopão de gente estranha e homens que esperavam, sem cerimônia, o momento em que as gringas fossem mostrar seus biquínis (e algo além deles). Apesar da nossa conciência nos mandar dar meia volta e sair correndo de lá, o corpo pedia um banho urgente e lá fomos nós encarar as águas turvas mais famosas do Peru.

Não aguentei muito tempo naquela piscina estranha. Meu cabelo parecia mais melado do que antes e o chuveiro do hotel tinha se transformado numa opção infinitamente melhor. Enquanto Iraman e Bella ainda aproveitavam o calor das águas termais, eu e Isa fugimos para beliscar alguma coisa no bar local e conversar com um peruano rastafari malucão que trabalhava ali. Assim que começou a esfriar, voltamos pra cidade.

De volta ao hotel, descobrimos que nossos vizinhos de quarto eram brasileiros de Cuiabá e que também tinham acabado de chegar de Machu Picchu. Depois de aconselhá-los a ficarem longe das termas fomos, enfim, tomar banho, o que também não foi essa maravilha toda porque pela falta de espaço na mochila, só havia levado sabonete. Mas pelo menos deu pra tirar os resquícios da água fedida na qual eu tinha acabado de me banhar.

Saímos para comer na charmosíssima pizzaria Inka Wasi na rua principal da cidade. Foi uma escolha difícil, visto que por lá não faltam bons restaurantes, porém acertada, pois degustamos uma das melhores refeições de toda a viagem. Voltamos cedo pro hotel e caímos na cama. Estávamos exaustas e no dia seguinte, nosso trem partiría às cinco e meia da matina. Delícia...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Distribuição de água por toda a cidade



















Templo do Condor



















Buscando bons fluidos














Momento contemplativo nos terraços













Marcas do tempo nos muros de Machu Picchu

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Machu Picchu


















Terraços - setor agrícola da cidade


















Templo do Sol













Pedreiras de onde os incas tiravam as pedras para construção.

















Praça principal onde ocorriam os festejos.

domingo, 15 de abril de 2007

Machu Picchu

A partir de Inti Punko, ainda encaramos uns quarenta minutos de descida até chegar definitivamente à cidade sagrada de Machu Picchu. O sítio ainda estava bastante vazio àquela hora, o que faz valer muito a pena acordar antes das cinco da manhã. Pela entrada principal já começavam a chegar os turistas que vêm de trem num rápido trajeto Cusco - Machu Picchu. Confesso que vendo aquelas pessoas chegarem arrumadas, descansadas e cheirosinhas, me senti de certa forma superior e gratificada pela experiência maravilhosa que estava vivendo, mesmo que àquela altura já estivesse exausta, imunda e cheirando a baby wipes. Nós havíamos conquistado Machu Picchu. E éramos só felicidade.

O tour pelo sítio foi liderado pela Mabi, que ia nos explicando cada pedra, cada esquina, cada monumento por onde passávamos. Aos poucos, o lugar foi enchendo e tirar fotos sem a presença de um alemão, japonês ou americano em quadro virou um desafio. Ao longo de toda a manhã percorremos corredores e escadarias ouvindo as histórias fascinantes do império inca e daquela cidade escondida na floresta tropical. Quando redescoberta em 1911 Machu Picchu ainda era a residência de duas família de pastores, embora a maior parte das ruínas já estivesse coberta pela vegetação. Depois das escavações, muros e paredes foram reconstruídos (mas não com a perfeição original, acredite) e os objetos encontrados levados para museus.

No fim da manhã, Mabi seguiu para Águas Calientes e nós tentamos continuar nossa visita, o que não durou muito, pois as escadarias já haviam se tornado um grande obstáculo para nossas pernas exaustas e estômagos famintos. Paramos pra comer na lanchonete que existe na entrada principal. Os turistas que chegavam àquela hora, barulhentos e atrasados, davam um ar de Disneylândia àquela parte do parque e, apesar do cansaço, voltamos às ruínas para deixar tanta confusão para trás. Passamos uns quarenta minutos sentadas nos terraços de onde se tem uma vista única de toda a cidade. Deitada ali, vivi o momento mais memorável da minha viagem e, por que não, da minha vida.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Inti Punko - Quatro amigas felizes e a paisagem que tanto esperávamos

Um pouco mais de perto... mas ainda não chegamos lá!

Enfim lá: a chegada a Machu Picchu!

18° dia

Nossa terceira, e última, noite foi um pouco agitada. Pelo menos para mim, que acordei com a Isa, minha companheira de barraca, aos berros avisando que havia alguma coisa lá dentro. Imagina como não fica uma pessoa ao acordar com gritos no meio da mata a mais de 3 mil metros de altitude numa barraca escura. Passado o pânico inicial, percebi que ela estava sonâmbula, descontrolada e decidida a acordar todo mundo no acampamento!

O show da madrugada mal tinha terminado quando os porteadores vieram nos chamar para o café-da-manhã. Ainda era noite lá fora e, mesmo com o relógio marcando quatro da matina, todos os turistas já estavam de pé. Fizemos uma rápida refeição e preparamos nossas coisas para as últimas duas horas de trilha antes de chegar ao nosso destino final.

Depois de agüentar cerca de quarenta minutos de frio e escuridão na fila do posto de controle, finalmente partimos. O clima entre os turistas era de ansiedade e muita pressa. Pela primeira vez eu vi as pessoas andando rapidamente e se esforçando para ultrapassar umas as outras. Eu mesma fiquei tensa quando precisei parar para tirar o casaco depois de passar alguns bons minutos fritando dentro dele, mas sem querer interromper a caminhada e ficar pra trás enquanto todos se apressavam em chegar. Eu estava numa verdadeira maratona.

A escadaria final é a última provação da trilha e parece interminável, mas dessa vez o cansaço não era capaz de parar ninguém, afinal, cada passo era um degrau a menos que nos separava das ruínas incas. Nos últimos metros da subida já era possível escutar gritos e palmas, mas entre os que ainda lutavam na escadaria, apenas um silêncio cúmplice de quem pensa "como vai ser quando for a minha vez de pisar lá?".

Emocionante. Essa era a resposta. Uma mistura de alívio pelo fim daquele desafio e a alegria de poder ver o sol nascendo na cidade sagrada dos incas. Inti Punko é o platô de onde se tem a primeira vista de Machu Picchu e onde dezenas de turistas se sentam exaustos, boquiabertos e pensativos por alguns bons minutos antes de começar a descida e poder, enfim, pisar num dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

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Relaxando no camping.













Ruínas acompanham todo o caminho no terceiro dia de trilha...












...e as escadarias nunca terminam!

sábado, 7 de abril de 2007

Terceiro dia de trilha

17° dia

O terceiro dia de trilha prometia ser muito mais tranquilo. Depois de ter superado subidas sem fim no dia anterior, acredito que todas nós nos sentíamos prontas pra encarar qualquer parada.

Saímos mais cedo do que de costume para passar em mais um posto de controle do governo, e o quanto antes chegássemos melhor para evitar a longa fila de turistas que se forma. Seguimos nosso caminho com o dia amanhecendo. A paisagem já começava a mudar bastante a medida que entrávamos pela floresta. Como a trilha era consideravelmente mais fácil, caminhamos juntas e a Mabi teve tempo e tranquilidade para nos mostrar os pássaros e plantas típicas da mata local. Volta e meia chegávamos à ruínas incas e parávamos para a visita, mas não para o descanso, porque a cada ruína, escadas e mais escadas esperavam por nós. Passamos por Choquesuysuy, Phuyupatamarca, Intipata e Wiñaywayna.

O almoço foi caprichado e, como sempre, carregado no carboidrato: arroz, macarrão e aipim! Pode parecer uma estranha combinação, mas estava uma delícia. Mabi acalmou nossas pernas cansadas avisando que a outra metade do dia seria apenas de descida. Pé na trilha de novo para mais quatro horas de andança. Acabamos nos separando novamente na descida. Pra baixo todo santo ajuda, mas não te carrega no colo. Haja joelho e haja coxa pra descer todas aquelas ladeiras. A última hora de caminhada foi um teste de paciência: ladeiras em zigue-zague e nada do nosso acampamento chegar. Muito exaustivo! Mas era o último dia, e pensar que na manhã seguinte estaríamos em Machu Picchu nos dava uma energia a mais.

Chegamos ao nosso destino mais cedo que nos outros dias e aproveitei pra dar uma boa descansada antes do lanche. O acampamento em Wiñaywayna é o que tem a melhor infraestrutura de todos e proporciona bar, música e cerveja aos turistas sedentos por uma noite de despedida à altura daquela experiência. Nosso jantar também teve um tom saudosista com direito a vinho e um brinde especial junto aos porteadores, os verdadeiros heróis daquela expedição. Com mais de trinta quilos nas costas, eles passavam por nós apressados para nos receber horas depois com um sorriso no rosto. Sempre educados e cortezes, deixaram no chinelo o tratamento que recebemos do Matteo durante nossa passagem pelo deserto boliviano.

Depois da celebração com todo o grupo, fomos dar uma volta pelo acampamento e tomar uma cerveza, afinal tínhamos muito o que comemorar! Infelizmente, ao contrário de todas as indicações que havíamos tido sobre a trilha inca, inclusive da Marisol, descobrimos que havia ducha com água quente por lá. Como não tínhamos sequer toalhas para o banho, nem quis ver como era o banheiro pra não morrer de raiva. Meu cabelo àquela altura era um pasta de fios duros e sujos presos com uma bandana, que estrategicamente escondia o desastre do resto do mundo. As unhas se recusavam a permanecer limpas por mais que eu tentasse dar um jeito no caos. O resto, porém, já havia sido cuidadosamente asseado com baby-wipes, cujo cheiro me enjoa até hoje!

O plano para o dia seguinte era acordar às quatro da matina para chegar à Inti Punku a tempo de ver o sol nascer na cidade sagrada dos incas. Então, nada de ficar perambulando pelo acampamento até tarde! E boa noite.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

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Segundo dia de trilha: o mais bonito!



















As escadarias incas e os incansáveis porteadores.



















Pausa para o almoço e para curtir a paisagem.



















Como ir de 3100m a 4300m? Só subindo! E muito...


















Chegada ao cume. É hora de aproveitar o prêmio!

...e a trilha continua!

16° dia

A noite foi tranquilíssima. Dormi encasacada, mas não senti frio algum durante a madrugada. Acordei no susto com os porteadores sacudindo a nossa barraca. Abri o zíper com aquela cara de sono que Deus me deu e lá estavam eles gentilmente trazendo de coca quentinho pra gente! Me senti uma rainha, e não pude evitar de lembrar do Matteo lá no salar. Depois de tomar meu chazinho e me arrumar saí no frio pra tomar o primeiro café da expedição. A mesa já estava posta: mingau, chocolate quente, chá, café, pão, marmelada. Tudo ótimo. Ganhamos mais um lanchinho pro dia e seguimos a caminhada.

O segundo dia de trilha é famoso por ser o mais difícil. Eu concordo, mas acrescento: o segundo dia é o mais difícil e o mais especial. Como a trilha é muito puxada, é natural o grupo se dispersar ao longo do dia, cada um seguindo o caminho ao seu ritmo. Com isso, passei a maior parte do percurso sozinha (mas sempre acompanhada por uma legião de turistas), admirando a vista e botando meus pensamentos em ordem. Uma verdadeira terapia que transformou aquele dia numa experiência inesquecível. A paisagem nesse trecho da trilha é também a mais bonita. Depois de subir as escadarias incas por horas, há sempre um vale deslumbrante a nossa espera. Montanhas nevadas, florestas exuberantes e turistas do mundo inteiro abismados, cansados e felizes.

As subidas iniciais são mesmo muito puxadas. As escadarias intermináveis são um legado dos incas, e pensar que pisávamos nas mesmas pedras que eles pisavam nos dava uma energia a mais pra continuar. A Isa decidiu dar um sprint inicial e seguiu na frente. Eu fui num ritmo mais lento, mas no esquema "não pára, não pára, não pára, não!!!" e tentei não me cansar demais. A Bella ficou mais pra trás e a Iraman teve que encarar uma seqüência interminável de câimbras, ficando com a Mabi no fim da fila. Só nos encontramos de novo para o almoço. E o local escolhido para a refeição não podia ter sido melhor. Como não sei descrever com palavras a vista que tivemos nesse dia abençoado, vou postar em seguida as fotos. Tirem as suas próprias conclusões. E babem...

Durante a sobremesa, a Mabi fez o favor de nos mostrar o cume final da nossa última subida, o que deixou as meninas totalmente desestimuladas pra continuar. Eu me sentia reenergizada pelo almoço, mas acho que pra elas a pausa pro descanso teve o efeito contrário. A subida final do dia é realmente muito puxada, fomos de 3100m a 4300m. Acho que a dica é sempre seguir um ritmo, mesmo que seja lento. Mais passos, menos paradas e uma boa respiração. Pelo menos foi assim que funcionou comigo. Cheguei ao cume e aproveitei para tirar fotos espetaculares enquanto esperava as meninas. A Bella chegou com lágrimas nos olhos, emocionada com a conquista do cume! Isa apareceu em seguida e começamos a descida já em direção ao acampamento. Descer também não é moleza, os joelhos reclamam, as pernas tremem, mas pelo menos sobra fôlego pra bater um papo durante a caminhada.

O acampamento do segundo dia é enorme e reúne barracas de diversas agências. Dessa vez, tínhamos banheiro (coletivo, é claro) mas continuávamos sem chuveiro. As unhas já estavam em petição de miséria e o cabelo...nem sei, porque não tive coragem de soltar. E haja baby wipes pra ficar limpinha depois de oito horas de caminhada.

Fizemos um lanchinho rápido (palomitas de maíz deliciosas!) e tivemos um bom tempo pra descansar até a hora do jantar.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

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Ponto final:
Ollantaytambo
Daqui pra frente só a pé!











Difícil é fazer tudo caber na mochila. Será que não nos esquecemos de nada?











Camino inca: começou a aventura!













Bienvenidos!

Começa a Trilha Inca

15° dia

A noite foi péssima pra Isa. Enquanto a gente descansava pra encarar os percalços do dia seguinte, ela passava a noite em claro vomitando no banheiro. Não sabemos exatamente o que se passou, se foi comida, se foi água... o fato é que na manhã seguinte ela estava um trapo. Dona Leda, a dona do hotel, nos serviu o café mais cedo, e às 9 em ponto a Mabi passou para nos buscar. Como a Marisol estava doente, Mabi seria nossa guia pelos próximos quatro dias e embarcou conosco no microônibus que estava buscando os turistas.

Depois de um bom tempo no ônibus, chegamos a Ollantaytambo, cidade base para partir rumo à trilha inca. Aproveitamos a parada para comprar nosso mais novo companheiro de viagem: um bastão de trekking feito de bambu e ornamentado à moda peruana. Viajamos mais alguns minutos e chegamos ao ponto final. Daqui pra frente só à pé. Vai começar a aventura!!

Mas antes de partir, pausa para o almoço. Os porteadores eram tão eficientes que antes que a gente pudesse perceber, a mesa já estava posta e a comida, sendo preparada. Para abrir o apetite, um refresco...quente! Parecia um suco morno de groselha que, depois do estranhamento inicial, ficava uma delícia. Em seguida, uma sopa muito boa acompanhada de um pão de alho melhor ainda e, pra terminar, o bom e velho macarrão! Estava me sentindo num banquete real.

Depois da bomba de carboidratos, chegou a hora de botar o pé na estrada. A trilha começa em um posto de controle e na ponte pênsil. Como o fluxo de turistas é controlado, há que se esperar um bom tempo até que todos estejam devidamente cadastrados e liberados para, então, seguir caminho. Infelizmente, nosso grupo se resumia apenas a nós quatro, apesar de eu ter pedido incansavelmente à Marisol para nos colocar com outros turistas e tornar nossa experiência ainda mais agradável. No entanto, é impossível fazer o percurso sem a companhia de outras dezenas de turistas.

Munidas de protetor solar, repelente, protetor labial, cajado, água e hojas de coca andamos por aproximadamente cinco horas. A Isa sofreu bastante com a subida, pois ainda estava se sentindo muito mal. A trilha no primeiro dia é razoavelmente leve, não fosse o peso da mochila nas costas que estava arrasando com os ombros pouco acostumados com peso. Chegamos ao acampamento pouco depois da hora prevista e já começava a anoitecer. Com ajuda da lanterna, tomamos um banho de lenços umidecidos, os indispensáveis baby-wipes, e desodorante antes do jantar. O cabelo, sempre preso, começava a ficar gosmento e as unhas davam sinais de que não permaneceriam intactas até o quarto dia. Necessidades fisiológicas? No matinho, ué?!

Tomamos um lanchinho para fazer hora pro jantar. Chá, biscoito e o tal "refresco". Ficamos batendo papo na mesa e a Mabi sempre se divertindo contando histórias de terror da região. Pior do que escutar os 'causos' de seres estranhos que habitam aquela selva, era ouvir falar dos acidentes que já ocorreram na trilha: um brasileiro que subiu a trilha de Waynapicchu muito rápido e teve um ataque cardíaco assim que chegou; uma japonesa que foi posar para uma foto e despencou em um barranco ("mais pra trás, mais pra trás..."); e um cara que foi atingido por um raio assim que chegou a Waynapicchu num lindo dia de sol (a melhor parte da história: enquanto ele se sacudia todo com o choque, as pessoas achavam que ele estava comemorando a chegada ao cume!!). Verdadeiras ou não, as histórias da Mabi nos divertiram muito naquele lugar isolado no meio do nada.

Jantamos ali mesmo e não demoramos em nos recolher às nossas respectivas barracas, já que teríamos que estar de pé às seis da manhã no dia seguinte.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

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Mercado Municipal.
Cusco, Peru.

Mercado Municipal

14° dia

Acordamos cedinho pra comprar as últimas coisas que faltavam pra encarar a trilha, marcada para o dia seguinte. Estávamos todas na maior ansiedade!! O desayuno do hotel era pago e super simples. Pão, chá, café. Nada marcante.

A lista de compras era grande: repelente, chocolate, castanhas, água... Sair atrás de todos os artigos de sobrevivência de que necessitávamos nos proporcionou uma boa andada pela cidade. Fomos parar no Mercado Municipal, um lugar colorido, cheio de gente, pitoresco, diferente e às vezes, confesso, um pouco nojento. Mas vale, e muito, a visita! Tem de tudo: todos os tipos de comidas sendo feitas ao ar livre, pessoas comendo no chão, barracas vendendo flores, grãos, artesanato, frango frito, sopa com pé de galinha. Porém, nos limitamos a comprar castanhas e hojas de coca.

Voltamos à Plaza de Armas à procura de um lugar pra comer. No caminho, conhecemos Michael, um inglês que viajava há meses sozinho pela América Latina. Fomos almoçar juntos num restaurante italiano pertinho do nosso hotel. O menino era uma graça, mas falava pelos cotovelos, o que fez o nosso almoço ir noite a dentro. Quando o Michael finalmente nos liberou, voltamos ao hotel arrumar as coisas para o dia seguinte e fomos dormir super cedo. Afinal, era chegada a hora do grande dia!


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Mercado Municipal
250g de castanhas do Pará - 5 soles
ver uma moça preparando uma sopa de pé de galinha - não tem preço!


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Palmas para ela! Muito samba e um prêmio de consolação caprichado.

A famosa noite de Cusco

...E A NOITE CHEGA!

Compramos umas cervejas e ficamos fazendo hora no hall do hotel à espera do Saul, marido da Marisol, dona da agência que ía nos levar a Machu Picchu. Acabamos conhecendo mais dois brasileiros que também estavam hospedados por lá. Com a chegada do Saul, acertamos os últimos detalhes da nossa partida na segunda-feira rumo à cidade sagrada dos incas. Confesso que deu um certo frio no estômago.

Mas como ainda estávamos em Cusco e a noite era uma criança, saímos pra conhecer a tão famosa noitada da cidade. Ao redor da Plaza de Armas, bares e boates a nossa espera. Enquanto caminhávamos pela rua, dezenas de pessoas vinham oferecer vales free-drinks das boates onde trabalhavam. É um pouco chato quando eles te param e praticamente imploram pra você entrar, até chegar outro e fazer o mesmo pra outra boate. Mas o assédio também é garantia de um montão de vales free-drinks que já garante umas duas horas de bebida (a entrada é gratuita, então a noite sai relativamente barata). Passamos a noite nas duas melhores boates de Cusco: Mama Africa e Mama America.

Como só dá gringo na noite (e uma ou outra moça da cidade, buscando 'entreter' alguns turistas), acabamos vendo muita coisa engraçada. No Mama Africa, rolam alguns concursos de dança meio improvisados antes da pista abrir. A Bella foi pega pra Cristo e teve que sambar na frente de todo mundo! Como estávamos nos contorcendo de rir, não tivemos condições de registrar o show. Mas, no fim das contas, ela ficou em segundo lugar e faturou uma garrafa de Cusqueña, que tomou inteira assim que se livrou do espetáculo para tentar fazer passar a vergonha. O outro brasileiro que estava com a gente também foi parar no tal concurso, mas o coitado sambava tão mal que perdeu para um... japonês!!!

Depois de algumas cervejas quentes e muita música eletrônica decidimos voltar para o hotel. Mas antes, um pit stop no melhor podrão da cidade para uma refeição da madrugada, afinal, o espaguete à carbonara já tinha ficado pra trás há muito tempo. A Isa não quis encarar o sanduíche e foi comer uma pizza (até hoje não sei onde ela encontrou uma pizzaria aberta aquela hora) e Iraman, eu e o outro brasileiro nos arriscamos no sanduba: pão, frango, repolho e cebola, feito na hora. Uma delícia...

Fomos dormir sem nenhum problema estomacal aparente.

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Mama Africa
Portal de Harinas, 191
Plaza de Armas
http://www.mamaafricaclub.com/

Mama America
Plaza de Armas

terça-feira, 3 de abril de 2007

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Chegamos a Cusco e demos de cara com isso! É ou não é uma cidade apaixonante?











Nossa rua: Calle Tecsecocha. Nome difícil de lembrar, lugar difícil de esquecer!

















Os táxis são assim. Pequenos, barulhentos e insanos. Cuidado!

Cusco, aí vou eu!

13° dia

Acordamos cedo para nossa despedida do café-da-manhã. Pelo andar da carruagem, sabíamos que dificilmente teríamos acesso a um banquete como aquele antes de voltar pra casa. A certeza de que faríamos uma ótima viagem até Cusco, visto o conforto do trajeto Copacabana-Puno, nos deixou tranqüilas até a hora de ir pra rodoviária.

No check-out do hotel Utama, uma saia justa difícil de encarar. No momento em que estávamos fazendo o pagamento pro dono do estabelecimento, um grupo de hóspedes passava pela recepção e, ao perceber que estávamos pagando muito menos pelos quartos, o povo começou a fazer perguntas. Pra retribuir a ajuda que o senhor havia nos dado, ficamos desconversando e fingindo que não estávamos entendendo xongas do que os coroas falavam. No meio daquela reclamação toda, saímos de fininho. Quem mandou eles não saberem negociar? Então, aprendam a lição número um: pechinchem sempre!

Compramos as passagens com o mesmo 171 que havia tentado arrumar hotel pra gente quando chegamos em Puno. Ele nos acompanhou pessoalmente à rodoviária. Para nossa felicidade faríamos a viagem em um ônibus turístico de dois andares, confortável e com apenas umas três ou quatro pessoas sentadas no chão. Demos a sorte de ficar nas primeiras poltronas lá de cima e tivemos uma vista privilegiada do belo caminho até Cusco. Para as horas de tédio, a TV exibia "O Exterminador do Futuro 3". Em espanhol, claro.

Nossa felicidade foi abalada quando nosso ônibus parou sem motivo no meio da estrada. A turistada desceu preocupada mas, pro nosso alívio, um outro ônibus (um pouco mais velho e sujo que o primeiro, mas ainda assim decente) passou para nos buscar. Seguimos viagem numa boa, até que o motorista começou a andar a meio km/h até parar definitivamente, para o nosso desespero. E dessa vez não tinha jeito. Os próprios turistas tentavam ligar pra companhia do ônibus em busca de alguém pra consertá-lo, mas foi tudo em vão. Não tinha viva alma pra nos ajudar.

Enquanto a turistada armava o barraco na beira da estrada, fui à procura de um banheiro com a Isa. Paramos numa vendinha e a moça gentilmente nos deixou usar a casa nos fundos. Acompanhada por alguns cachorros meio suspeitos, seguimos pro banheiro, que se resumia num buraco no chão, logo ao lado da ducha de banho. Como nossa viagem não tinha hora pra acabar, fui ali mesmo. Enquanto esperava a Isa criar coragem lá na fossa, um cara saiu de toalha de uma das portas e foi tranquilamente a outro cômodo. Gentil, me deu até boa tarde.

Ninguém chegava a uma conclusão de como os turistas seriam levados até Cusco. E agora, quem poderá nos defender? Não adiantava chorar que o Chapolin é mexicano. O jeito foi pegar um ônibus comum que passou pela estrada em direção à Cusco. Acompanhadas por outros turistas resignados, pagamos mais uma passagem (por 6 soles - reembolso? Que nada!) e embarcamos na carroça. Uma meia dúzia de cholas se instalou ao lado do minha poltrona. O resto do corredor permaneceu vazio. Obrigada pela preferência!

Chegamos em Cusco com um atraso de umas três horas. Lá nos esperava uma outra moça indicada pelo nosso agente preferido de Puno, que nos levaria a algum hotel na cidade. Depois do fiasco da nossa viagem, achamos por bem fugir da tal da agente nos fingindo de americanas, e pegamos um táxi rumo à Plaza de Armas. Chega de cair no papo dessa gente.

O Diego, brasileiro que havíamos conhecido na Bolívia, já tinha nos indicado o Hotel Imperial Palace, então seguimos até lá. O hotel era ótimo, a poucos quarteirões da praça, com café-da-manhã, água caliente e por uma bagatela de U$10,00. Negócio fechado. Assim que nos instalamos fomos atrás de...comida, é claro. Andamos pela Plaza de Armas enquanto já anoitecia e foi impossível não me apaixonar pela cidade. Um lugar moderno, mas que respira história; cosmopolita, mas sem perder as características mais alegres de seu povo. Iluminadas, as igrejas ficam ainda mais grandiosas e a praça, ainda mais cativante. Não queria sair de lá por nada.

Paramos para comer na Trattoría Adriano, um restaurante italiano muito aconchegante e com ótimos preços. Assim que sentamos já serviram uma entradinha, que para as quatro famintas ali na mesa, já era um banquete. Menu principal: espaguete à carbonara. O melhor que eu já comi em toda a minha vida. Naquele momento, sabia que seria muito feliz em Cusco.


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Hotel Imperial Palace
Calle Tecsecocha, 490B
U$10 por pessoa (com café, banheiro privativo com banho quente)


Restaurante Trattoria Adriano
Esq. Av.Sol com Mantas, n° 105 (pertinho da Plaza de Armas)